terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

TRAPOS E FARRAPOS

TRAPOS E FARRAPOS
Dois nomes para três ou quatro significados. Ao que aqui me refiro diz respeito ao que define a decadência moral em que nos encontramos quando diante das grandes questões sentimentais . Viramos farrapo humano. Sim, porque nestas horas sentimos o corpo aos frangalhos e a alma em pedaços. Saímos do corpo físico e temos dificuldade de respirar, comer, andar, falar e de tudo que percebemos a partir dos nossos cinco sentidos. Falar desses casos é desumano desde o momento em que assim nos sintamos. Perdemos a fé, a esperança e a vontade de viver, além de não vermos mais sentido para a vida. Nossa impotência é tamanha que sequer conseguimos regredir a um plano mais profundo de nós mesmos em busca de alcançar um estágio alterado da consciência onde possamos encontrar respostas para retornar a vida tangível, onde estamos inertes. Há uma dor profunda e inquietante que começa na alma e termina em nosso corpo de paciente moribundo. Achamos que vamos morrer.
Surgem perguntas como; o que fizemos de errado? Ela (ou ele), não gosta mais de mim? Será que tem outro(a)? Os dias seguem passando e a dor vai aumentando principalmente quando a distancia é sentida de forma unilateral. Imaginamos os momentos que vivemos juntos e sentimos punhaladas de nostalgia. Imaginamo-la(lo) com outro(a) e aí o coração literalmente sangra, vem o desfalecimento, a sensação iminente de morte, para em seguida sentirmos o desejo enorme da loucura, sem que para isso precisemos ser patologicamente passionais, porque se formos, certamente a loucura será perpetrada.
Pensamos na cama e nas posições de Kama Sutra e na loucura como fazíamos sexo. Pensamos se ainda é possível uma volta e percebemos que perdemos, ao mesmo tempo em que desejamos encarnar os espíritos de um Don Juan ou de um Casanova, mestres na arte de amar. Procuramos nos conformar com a condição de amantes abandonados que pensam como todo mundo. Então sentimos que a dor começa no epigástrio, contorna o estômago em direção à esquerda, passa pelo oco axilar e mira no átrio esquerdo onde a contração é mais forte e onde é mais sentida. Simula o infarte, ocorre em ciclos que terminam com uma descarga vagal. Há sudorese e extremidades frias, a pressão arterial sobe ou desce, depende... È f... para não dizer é morte!
Mas não tem jeito, é dor no peito, é dor nas tripas, é dor de fazer medo!

José Antonio da Silva,
Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2010.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

CIDADE É VILA

CIDADE É VILA
A cidade começa na vila,
A vila vira cidade e a cidade
Vai do mar a vila que
Virou cidade e a cidade vai ao mar!
Do mar se vê a vila que virou cidade,
Vê-se portanto a cidade nua, onde
Era vila crua de matos e gentes ingênuas
E belas em suas estruturas. De cabanas,
Ocas e panelas com tapioca.
Assim era o lugar antes da cidade,
Cheio de arvores, pássaros e cotias,
Maracás e enguias
nas praias de águas frias.
Coqueiros nativos, e redes de taboa.
Riachos infiltrantes que partem
Da lagoa!
Falo de maceiós, atobás e gaivotas.
Tatuís ariscos driblando predadores,
Se escondendo nos buracos, prenunciam
Natureza em plena beleza e total limpeza.
Não há valas negras, não há esgotos,
Não há fezes nas ruas!
Falo de vila pura, não de cidade impura,
Falo de equilíbrio entre vidas e vidas,
Vidas e terras, terras e serras, não morros,
Repletos de barracos de fome de miséria,
Marca da indignidade humana, o lado mais
Cruel do animal inteligente.
Da escarpa se vê o mar de onde não se deveria vê-lo.
Do mar se vê a escarpa onde havia plantas vivas,
A respirar processando a fisiologia do ar.
Respiro fumaça, não há mais ares, mas odores, fétidos
De gases tóxicos- todos naturais mas, nocivos!
A natureza sensível não suporta agressão, reage, elimina,
Mata e morre!
Cheiro de maresia da vila de pescadores, não cheiro
De bactérias anaeróbicas da gangrena gasosa!
Tudo na cidade, nada na vila, da vida da gloria.
Luar de prata reflete na água da praia deserta,
Inspira o poeta, convida a seresta, não as ruas desertas
Da cidade louca dos prazeres notívagos e dos crimes
Hediondos, da nefasta euforia dos perdidos!
Tudo começa na vila que vira cidade, cidade algo
Que se mata, porque morrer é o fim de tudo,
Da cidade , da vila e dos homens!
José Antonio da silva – João Pessoa, 06/02/2010.