terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PERU DE NATAL

PERU DE NATAL

Certa vez, um gordo peru fazia rodas no terreiro da casa, quando de repente surge um pavão que também fazia o mesmo a mostrar sua exuberante plumagem. Pego de surpresa, o peru ficou meio sem jeito de abordá-lo visto que, por não conhecê-lo, não achava prudente conversar com estranhos. Mas quando viu que a majestosa ave fazia rodeio numa coreografia que daria inveja a qualquer bailarino do Balet Bolshoi, indignou-se e resolveu abordá-lo da seguinte maneira:
- Senhor pavão, não nota V.Sa. que está invadindo o meu terreiro sem nenhuma cerimônia para ofuscar meu brilho?
- Não senhor peru, pois se não me engano, este terreiro também é meu já que temos um dono em comum. Depois, que eu saiba, você não é dono de nada, mas antes é propriedade de alguém, assim como eu!
- Mas eu nunca vi você antes!
- Provavelmente porque és desligado, se prestaste mais atenção no que se passa nesta casa, certamente já me terias notado; pois há muito tempo neste pedaço, sempre faço minhas rodas, desde que me entendo por bicho. Bicho bonito, é claro!
- Ah! Estou vendo que além de intrometido você também é narciso!
- Como não poderia ser se a mãe natureza caprichou na minha estética e me transformou numa das aves mais bonitas deste planeta? Não tenho culpa nem responsabilidade pela minha beleza, além do que, se o Criador assim me fez, deve lá Ele ter seus propósitos.
- É...! Vejo também que você é muito pedante e sabe muito bem justificar sua inconveniência.
- Não acho que você deva se incomodar com a minha presença neste terreiro, pois além de enfeitá-lo, sou também desta casa e se aqui estou certamente não é por responsabilidade exclusivamente minha. Você também é bonito e com suas rodas ajuda-me alegrar o ambiente. Aqui juntos, representamos a diversidade da rica fauna que povoa estas paragens.
- Paragens? Que paragens? Isto aqui não passa de um terreirinho sujo, por onde fazemos cocô a vontade sem que ninguém apareça para limpar. Se você olhar para os seus pés agora, aposto que estão encalacrados de caca sem que você sequer tenha notado.
- Oh! Meu pessimista galináceo, isto faz parte do jogo, portanto não se preocupe com ínfimos detalhes enquanto grandes questões da sua vida você nunca prestou atenção.
Cada vez mais irritado pergunta o peru:
- Afinal de contas do que você está falando agora, se não sabe nada da minha vida?
- Ah! Peru, você com as suas colocações chega a me dá pena, sem querer fazer trocadilho, pois já tenho penas bastante!
- Vamos fale o que sabe de mim, se é que sabe de alguma coisa e deixe de lero-lero!
- Tá peru. Não queria, mas você me obrigou a fazê-lo: por acaso sabes em que época do ano estamos?
- Época do ano? Que importância isto tem agora para o nosso papo?
- Bom, para o meu papo não tem importância, mas para o seu certamente terá! Pense um pouco, não seja precipitado, nem displicente, que você perceberá o perigo que é inerente a você e sua família nesta época do ano!
O peru pensou, pensou, fez várias vezes seu glu-glu-glu, rodou pra lá e pra cá, mas não chegou a nenhuma conclusão. Voltou-se então para o pavão e mandou:
- Aí Pavão misterioso, pensei, pensei, rodei e nada me parece diferente de nada. Qual é afinal?
- É...! Peru com esse seu jeito de ser compreendo os desígnios de Deus para você e toda sua raça.
- Êpa – Raça não! Corta essa e me classifica como espécie. Alias sei muito bem a que família pertenço como você mesmo falou antes sou um galináceo. E tem mais, se não me engano somos parentes bem próximos, visto que você é também galiforme fasianídeo. Gostou? Não sou tão burro assim com você tenta me convencer!
- Ok peru você venceu, vamos ao que interessa: Você notou o que o seu dono vem te fazendo nos últimos dois meses?
- Sim notei, ele vem me dando comida no bico, uma espécie de pirão grosso recheado com grãos de milho. Acho até que estou ganhando bastante peso por conta disto!
- Pois é, você tem uma ideia do porquê?
- Não, sequer faço ideia!
-Sabe em que mês estamos?
- Espera! Estamos em dezembro e se não me engano bem próximo do natal.
- Bom, agora você está um pouco mais próximo de sua dura realidade.
- Dura realidade?
- Sim!
- E daí?
- Bicho de pena, você foi a ave escolhida para ser comida pelos homens na ceia de natal em comemoração ao nascimento de Cristo.
- Cristo?
- Sim. O filho de Deus, aquele que foi mandado a terra pelo Seu Pai para absorver o pecado de todos os homens e em fim salvá-los.
- Como você sabe tudo isso sendo apenas uma ave?
- Sim, sou apenas uma ave mais também sou filho de Deus.
- Tem certeza que você é filho de Deus, com esta forma totalmente diferente da dos homens, pra mim você não passa de um resquício de dinossauro!
- Claro, Ele fez apenas o homem a sua semelhança, e depois criou todas as formas de seres vivos, portanto somos todos suas criaturas.
- E as plantas, esses graõzinhos que nós comemos, as mioquinhas, e outros bichinhos?
- Tudo e todos somos de Deus.
- Sou então filho Dele?
- Claro!
- E mesmo assim sou escolhido para o sacrifício da ceia em homenagem ao nascimento do Seu Filho?
- Isso mesmo.
- Você me acha meio tapado, não acha?
- Bem... Digamos meio desligado!
- Mas não acha meio incoerente que Ele me sacrifique, eu seu próprio filho, para comemorar a vinda do meu irmão?
- Bom, de repente até parece incoerente, mas acho que você está pegando pesado, além do que não temos capacidade para julgar os desígnios de Deus!
- Ah! Então você acha justo que Ele me escolha para tal fim?
- Não... não é bem assim, apenas não tenho como julgar Suas determinações!
- Mas eu também não tenho como julgá-Lo, mas não acho justo a minha escolha, afinal de contas, vou ser sacrificado, depenado, assado, deglutido por uma legião de esfomeados, por muitos que se aproveitam da ocasião e comem até as minha tripas e dentro da barrigas deles vou ser reduzido a excremento!
- Bom, isto é fato! Mas não precisa você ficar tão preocupado assim, afinal, todos morremos um dia.
- Você quer dizer então que a maneira de morrer não tem importância?
- Bem, no fundo acho que sim, mas também não tenho certeza.
- Bom já que é assim, me parece que você compreende melhor que eu os desígnios de Deus, vamos trocar de lugar!
- Não, que é isso? Se assim fizéssemos estaríamos contrariando os desígnios de Deus. Nunca! Isto é blasfêmia, jamais compactuaria com tamanha ignomínia! Nem Pensar.
- Já sei, Deus nos deu a capacidade de compreender seus desígnios, mas desde que eles não nos afete. Sei que neste natal chegou minha vez, vou ser embriagado na véspera, sacrificado no dia, e assado num forno de 280 graus, até minha carne ficar dourada e suculenta, para que os homens cometam um dos sete pecados capitais – a GULA - e cometem mesmo, provando que o Cristo não conseguiu livrar o homem do pecado, por mais amor e boa vontade que tenha pregado aqui na terra. A noite enfeitarei a mesa, serei arrumado, enfeitado num baixela, com groselhas, uvas e avencas, para preservar minha estética que jamais será igual a da sua calda multicolorida aberta em leque, mas antes, em posição ginecológica com um pêssego enfiado no meu orifício anal para tapar a escuridão que todos trazemos por dentro das entranhas! Um feliz natal para você pavão e que Deus te erre sempre na hora da comemoração ao nascimento do Seu filho. Amén!

Por José Antonio da Silva. Um filho de Deus.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AS TÊTAS DA JULIETA

AS TÊTAS DA JULIETA
- Julieta foi uma colega de faculdade, quando me lembro dela sinto saudades e muito boas lembranças. Durante meu tempo de universidade fiz muitas amizades, era amigo de quase todos os colegas de turma, mas, nenhuma foi como a minha amizade pela Julieta. Primeiro, pelo inusitado ou seja, pelo fato de ser tão amigo de uma colega, quando o normal neste caso é ter um colega como um grande amigo dos tempos da faculdade. A dita cuja era um preta sextavada, reforçada e reboculosa, mulher daquelas que dá água na boca de mosquito.
- Muito disfarçada e faceira, a nêga, era irreverente e lasciva. Dona de um corpo invejável Julieta de tinha têtas fartas, capaz de alimentar muitos amores. Apesar de toda sua sensualidade nunca me vi com ela na cama, gostava mesmo de sua companhia, de ser seu amigo mais íntimo, digno de ser depositário de seus segredos e intimidades. Às vezes nos pegávamos falando de tudo, de longos papos sobre sexo, transas, coisas eróticas, mas nem assim jamais avancei o sinal para o lado da minha diva da negritude. Éramos como irmãos, modificados claros, porque falavamos de coisas que irmãos não falam entre si.
-Julieta não tinha namorado, em que pese a sua lascividade, seu sorriso despejava mel e suscitava desejo. Seus dentes alvos e regulares produziam para mim o sorriso das deusas gregas, com uma diferença, era algo mais bonito porque a alvura dos dentes contrastava com o vermelho dos lábios e o negro da pele. O fato dela não ter namorado me deixava à vontade, às vezes me sentia seu dono, no bom sentido claro, pois estava sempre disponível para mim. Melhor ainda estávamos sempre disponíveis um para o outro.
-Com tanto apego e proximidade, pois não havia dia em que não estivéssemos juntos, na sala de aula cadeira lado a lado, nas festas na mesma mesa, na praia na mesma barraca, e na hora de comer ou beber, um servia ao outro. Havia zelo e carinho na nossa relação. Eu amava Julieta, tinha certeza que ela me amava, mas na realidade não éramos um do outro. Estavamos sempre no status de grandes amigos.
-Naquela época, apesar de andar colado na Julieta eu andava por baixo em relação aos meus amigos, não pegava ninguém, enquanto eles pegavam todas, era contumaz emprestar meu carro para os meus colegas saírem com as meninas, enquanto eu ficava a chupar o dedo, mas sempre ao lado da Julieta. Chegava a sofrer com a minha situação de boca virgem. Ficava cabisbaixo e às vezes triste, até que uma dia, Julieta percebeu minha timidez e logo tratou de tomar suas providências. Após uma espécie de triagem, que constou de um interrogatório nada comum para uma amiga, me perguntou:
-Peter que há com você? Por que nunca te vejo pegar uma garota? Você não transa ou é gay? Fiquei pasmo! Quase vomitei de vergonha e mesmo diante de toda intimidade de que dividíamos busquei enfiar a cara no próprio pescoço, assim como faz a tartaruga, aliais a bem da verdade foi o que me senti naquele momento, uma tartaruga e das mais lentas possíveis, daquelas que perdem até mesmo para uma lesma.
- O tempo passava e eu não conseguia compreender meu dilema, não entendia porque não pegava ninguém. Comecei a achar que estava apaixonado pela Julieta mas, não sabia, nem tampouco ela.
-Um belo dia sai com a Julieta para me testar, disposto a tentar descobrir o que eu na verdade sentia por ela. Parece coisa feita, em dado momento Julieta me interpela da seguinte maneira: - Peter quer saber de uma coisa? – Respondi: manda e ela: tenho pensado muito em você, nossa fiquei lívido, - Como assim, perguntei – ela então falou, o fato de você não pegar ninguém me preocupa tanto que resolvi te levar na zona. – Eu o quê? – Ela na zona, no baixo meretrício, não só vou te levar como arranjar uma puta pra te comer! Entendeu? Afinal de contas eu sou ou não sou tua amiga? - Ponto final. Naquela hora, meu pinto se encolheu mais que pescoço de tartaruga, se escondeu, desapareceu, foi parar na próstata, senti até a dor quando ele chegou lá!
- Qual não foi minha decepção, de repente a mulher de quem pensei que poderia descobrir um verdadeiro e enrustido amor mostrava-se agora prestes a se tornar minha cafetina. Meu mundo caiu, mas eu não podia cair com ele e para mostrar que isto não aconteceria topei ir para zona com a Julieta.
- A partir daí sempre que queria pegar, Julieta me levava para zona, e me indicava quem pegar e melhor me esperava até eu me fartar e voltar para os seus braços. No carro, deitava a cabeça no seu colo e curtia a tristeza de depois, se como com ela tivesse transado. Assim ficamos por muito tempo, até que uma dia, o curso acabou e por força das circunstâncias nos separamos. Eu pra cá, ela pra lá.
-Nunca esqueci de Julieta, nem tampouco descobri se a amava ou não de verdade até que um dia, durante um encontro de turma, ficamos a sós na piscina, conversa vai, conversa vem, quando de repente me encontro pegando nos peitos da Julieta, que por sua vez não esboçou qualquer reação.
- A vida é assim, nem sempre conseguimos convier com o nosso verdadeiro amor.
José Antonio da Silva – Cabo Frio – 02/12/2010.
CONDIÇÃO HUMANA UNIVERSAL SEGUNDO SCHOPENHAUER: " desejar, saciar-se,entediar-se e desejar outra vez."

CIDADE VIVA

CIDADE VIVA

Seu coração pulsa, como num
Corpo enche suas artérias
De sangue multicor. Seus glóbulos
São complexos, nem brancos
Nem vermelhos mas de todas as cores.
Fazem barulho de bolhas turbulentas
Que se agitam em múltiplas direções.
O som é estridente, incomoda, é diferente,
Cada um por si não há tempo de um por
Todos nem de todos por um. Cada qual
Busca sua turma, se vira ou é esmagado.
A cidade vive sua vida e a vida de todos,
A cidade é vitima que faz vitimas. Não dorme,
Não acorda é perene, é explorada e também
Explora.
Uns vão outros voltam, dá-se o oposto a todo
Momento. O oposto da glória, da miséria, da fome,
Que come seus cidadãos pelo que são e não são!
A cidade é forte, é vida é morte!
A cidade é uma saga, uma doença social feito uma praga!
É a sorte ou o azar, onde se pode ou não pode – a cidade
É forte, tem porte de coisa grande!
É mega, é pedra é fome!
Tem muitos horizontes, mas nos consome.
A cidade é indiferente.

José Antonio da Silva,
Rio de Janeiro – 03/09/2010.