sexta-feira, 24 de junho de 2011

UNICIDADE DA ORIGEM

UNICIDADE DA ORIGEM

Na ânsia de compreender
A unicidade da origem,
De todas as coisas palpáveis
E concretas, desde a complexidade
Dos tecidos até a forma física da matéria,
Me perdi nos meandros da metafísica,
Para me achar na clareza do abstrato.
Misterioso e complexo substrato,
Dos que pensam as mentes inquietas
Que tentam entender o que não sabem.
Mergulhei no mundo dos incertos contatos
Em busca de um elo mais claro, de ligação,
Entre a forma física e a visão, do que
Vejo em terceira dimensão, sobre a face
Da terra, ou da imaginação dos homens
Que pensam ser o cosmo fruto da criação,
De apenas um Deus, cuja ação, sublima
Toda força e ambição dos mortais que buscam
explicar, mesmo sem saber,
a origem metafísica do ser.

José Antonio da Silva – Cabo Frio, 14/08/2009.
(Como explicar a diversidade tecidual dos humanos,
A partir de uma única célula – O ovo?.Mas...)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

RIO - CIDADE LUZ

RIO – CIDADE LUZ

Rio tua noite é um chão de estrelas
Por tuas luzes teus filhos seduzes.
Eles te curtem – A tua beleza, a tua vida
Teus perigos e teus poderes!
És um ópio que alucina e obnubila a razão.
Tuas ruas teus segredos me dão medo,
Porque no fundo és mistério e no escuro
Um cemitério!
Os teus filhos se degladiam para sobreviver,
Em tuas ruas, tuas esquinas e guetos sem
Contar a orla que tu subestimas pela omissão.
Tudo lhes oferece, o que é do bem e o que é do mal,
Depois escondes os que desaparecem.
Em teu seio é tão difícil viver, quanto fácil é morrer.
Fascinas com tua geografia do lado onde vive a burguesia,
Mas afrontas com a desigualdade em que vive a maioria.
Os desvalidos da periferia.
Teus jovens parecem perdidos, em geral são notívagos,
E cultuam a boemia – são iludidos por tuas luzes ofuscantes
Que os cegam para verdade da cultura inútil que os embriaga!
És indiferente ao que acontece para o bem ou para o mal,
A todos deslumbras com os teus hábitos que ameaçam os viventes,
Pelo sofisma que se mostra diferente.
Não administras tuas diferenças, por não ter importância os diferentes.
A tua maioria está esmagada vítima de uma minoria que esmaga.
Teu coração tem múltiplas artérias, onde o povo no papel de sangue
Corre num circuito fechado, sem volta e sem sentido!
Tua dinâmica é autofágica, onde teus filhos são fagocitados.
Com tua beleza embotas a razão dos que vivem por um triz,
Em busca de tua emoção!
Rio, parece que jamais acordarás deste teu sono opiáceo,
Que nocauteia teus filhos como a prepará-los para morte!
Mesmo assim tua noite é um chão de estrelas, és o céu pelo avesso,
Inferninho dos alienados, Rio dos percalços, berços dos malfadados...!

José Antonio da silva,
Cabo Frio – 18/06/2011.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

ORAÇÃO DO NORDESTE

ORAÇÃO DO NORDESTE

Chão de mato seco
De terra rachada
De bichos que morrem
Por falta d’agua.
De homens destemidos
Que alardeam uma
Bravura sem sentido
E acreditam na força do destino.
Quase sempre em sua maioria
Comem uma vez por dia
Fato que atribuem à vontade de Deus,
Vivem sem as benesses do progresso,
São vitimas de seus congêneres
À quem paradoxalmente admiram,
Resignam-se e aceitam a exploração do próximo.
Vivem na miséria, próximo ao primitivismo,mas,
Acreditam soberbamente em Deus e que
Ele sempre lhes proverá.
Não aceitam a verdade sobre seus líderes
Ignoram sua moralidade e fazem pouco caso
De si próprios – comida em suas mesas é sempre
Uma certa incerteza!
No sertão vivem da brisa seca da seca
Que sempre assola a região em contraste
Com o clima litoral que habita as praias colossoais
De piscinas calientes de corais – onde habitam
Os poderosos que submetem a massa à escravidão!
Senhor Deus dos desgraçados olhai por este povo
Condenado a viver sob os pés dos seus irmãos – Amém!

José Antonio da Silva,
Cabo Frio – 08/06/2011.

sábado, 4 de junho de 2011

O VELÓRIO

O VELÓRIO
Ali inerte deitado com o olhar virado para o céu, ainda que de olhos fechados podia ver através do teto dado sua nova condição, uma nova vida. Mãos cruzadas sobre o peito, em completo e absoluto silêncio postava-se indiferente a dor que provocava sua morte em seus entes mais queridos que não aceitavam tão inesperado desenlace, para eles absolutamente precoce. Jazia coberto por flores amarelas que lhe enchiam o caixão e que pareciam vivas e regadas pelas lágrimas sofridas dos seus familiares e amigos. Ainda vigiado de perto pelo seu peri-espírito, nem com este interagia. Sabia que o seu espírito a estas horas flutuava de felicidade povoando mundos abstratos pela liberdade que obtivera ao se livrar do seu corpo, agora nada mais que natureza morta pronta para se desintegrar voltando à sua condição inicial de pó para reintegrar-se ao universo. Certamente seria dentro de pouco tempo poeira atômica. Pessoas choravam porque não sabiam do destino daquele corpo que há tão pouco tempo pertencera a este mundo por longos sessenta e um anos. Ele, já então finado sabe o tamanho do tempo que viveu, que certamente lhe parece muito longo e portanto, não tem de que reclamar pelo fato de ter deixado a vida terrena. Olhando-se bem para a sua face pálida, exangue, notava-se que estava satisfeito, pois na realidade demonstrava a satisfação do seu espírito o qual viveu a angústia dos últimos trinta dias, período em que viveu entre a vida e a morte. Tamanha era a satisfação do seu espírito que o julgava egoísta. Sabia no entanto. que era normal a atitude do espírito ao querer desencarnar para voltar ao seu mundo, mesmo quando ainda não se purificara de todo. Compreendia o castigo que era para ele viver a condição de espírito encarnado por conta de sofrer as provações e as expiações que o levaria a purificação. Em seu descanso eterno que acabara de começar, o finado não mais interagia com os seus circunstantes, todos pesarosos buscando uma explicação que lhes parecesse lógica para justificar a morte. Diante de tal realidade tinha este vontade de lhes transmitir porque a vida culmina com a morte, uma vez que à esta altura esta verdade não mais lhe era estranha. Mas como lhes falar se estava morto, não podia mais sequer utilizar seu espírito para se comunicar. Sabia-o já em outra esfera, no mundo espiritual, na vida eterna. Então, pensava: -Quem garante que não voltaria a compor materialmente outro ser humano, que receberia o mesmo espírito que desencarnara de seu próprio corpo? Pensava ainda, por que tanto choro se os que choram nada sabem do que comigo acontecerá? Diante destas indagações, lamentava-se por não poder consolar seus entes queridos e tão sofridos. Já sabendo de tudo que lhe aconteceria por que não lhe era dado o direito de tranqüilizar seus amados filhos, a viúva, os parentes, os amigos? Isto lhe parecia injusto. Por outro lado não lhe cabia penetrar tão profundamente nos mistérios divinos. Resignava-se, até mesmo porque já não sofria diante das emoções humanas, pelo contrário, já nem era mais humano, mas apenas matéria orgânica em vias de desintegração. Logo voltaria a compor os elementos químicos da natureza. Pensava no vescículo bíblico constante de Eclesiastes assegurando que surgimos do pó e para o pó voltaremos. Pensava por ouvir dizer, já que sequer jamais lera uma palavra da Bíblia. Vinha-lhe então a vontade de dizer todas as coisas que não dissera antes de morrer, muitas vezes por conveniência, outras para preservar sentimentos diversos ou até para não magoar. Mesmo assim achava que devia ter dito sempre, tudo que sentia, só assim poderia ter sido realmente verdadeiro. Mas sabia que assim como nem só do pão vive o homem, nem só da verdade ele também vive. Mesmo morto, de semblante indiferente a dor que provocava nos seus entes queridos, imaginava que não era bem assim, podia sentir num fundo um sofrimento póstumo. Mas o que fazer se não mais lhe era possível interagir com os condolentes, amigos e parentes todos tristes e constrangidos diante da sua morte até certo ponto precoce. Sentia-se algo responsável por tal precocidade pois ele mesmo colaborara com o fato. Chegara a pensar que criara uma situação de tragédia anunciada. Enfim tomava consciência pós-morte que nada fizera nos últimos tempos para evitar tão indesejado e prematuro desenlace. Na realidade fora negligente com a sua saúde, não acreditara na perecividade da matéria. Por outro lado pensava existir outra vida, mas concreta que abstrata por ser eterna. Neste momento eximia-se de quaisquer tipos de críticas ou imputações. Tinha consciência de que escolhera a vida que lhe parecera melhor. Sabia também que nenhuma seria perfeita e finalmente compreendia que o limite entre a vida e a morte é indefinido. A morte lhe parecia única certeza da vida , um axioma, uma fatalidade atroz que a mente esmaga. A morte é o maior algoz da vida. Aos que morrem a vida eterna, aos que ficam a possibilidade de morrer a qualquer instante da vida.
Por José Antonio da Silva - Cabo Frio 04/06/2011.