segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
MANITU II
A Noite começava cedo,
íamos dormir à hora da
Ave-Maria.
Cedo também raiava o outro dia.
Aos primeiros sinais da manhã,
ouviamos o som chocho das frutas,
caídas sobre o tapete de folhas secas!
Bum! Bum! era assim de um a um.
Levantávamos lépidos e ligeiros,
eu e meus primos - para desfrutar o
primeiro desjejum.
O segundo era com tapioca.
Depois ficávamos nutridos para
primeira etapa do dia.
Bornal de pano à tiracolo e estilingue
na mão; eis uniformes os caçadores.
Haja rolinha, de tão bobas que eram
as bichinhas!
Todas caiam inertes ao tiro certeiro
sobre seus quengos indefesos!
Morriam tentando viver - sobre o chão
catando grãos.
Quão cruel é o ciclo vital, sequer pensávamos.
Rolinha dava um bom assado.
De volta à casa por volta das dez, vovó servia
sua gostosa galinha.
Um Bom feijão de corda e um punhado de farinha.
Tinha também maxixe, quiabo e às vezes sardinha.
Para os adultos uma lapadinha - cana da boa, vinda
do engenho da sinhá mocinha!
Bucho cheio, pé no mundo, a tarde vinha.
Manga rosa, manga espada e fruta de conde,
banana d'água e sapoti tudo era fruta, tudo era doce
Para deglutir!
Perna no mundo pra que te quero, banho de rio,
lombo de cavalo, queda de galho, quengo rachado!
Tudo era fácil, vovó tratava com casco de cabaça,
carbonizado!
Para garantir chá de cabeça-de-nêgo, quebra-pedra
ou alecrim. Às vezes de cabacinha, que coisa ruim!
Óleo de rícino para matar lombrigas - verme medonho
do Jeca Tatu.
Mastruz com leite pra doença do peito, com lambedor
de hortelã da folha grossa! Não há catarro que não
se cuspa fora!
No fim da tarde o por do sol, a silueta da colina verde
fica cobre, a copa do abacateiro fica amarela de canários
vê-se a beleza do cenário
metamorfose animal de natureza colossal!
O astro rei se apaga por traz da floresta, os pássaros
gorjeam seus últimos acordes em busca de agasalhos,
mais um dia termina cheio de graça como a Ave-Maria!
José Antonio da Silva - Cabo Frio - 09/12/2011.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
UM VIDEO CENSURDO NA INTERNET
Ontem recebi o e-mail de um vídeo com o enunciado supracitado. Trata-se de uma campanha desencadeada por afamados atores da rede globo de televisão. Em princípio o trabalho é bem feito, como não poderia ser diferente por questões óbvias. Dá conta de uma tentativa de mobilização da sociedade brasileira para que não se construa a hidroelétrica de Belo Monte, em nome da preservação do meio ambiente em função do impacto ambiental negativo. Em suas falas os atores fazem um relato do caos que se formará no caso da construção, mostrando os pontos negativos. A meu ver esqueceram de cogitar sobre prós e contras e partiram de cara para detonação do projeto. Alguns afirmam que pesquisaram sobre o assunto e não tem dúvidas do desastre. Houve até quem simulasse um pequeno strip-tease, livrando-se do sutiã e em seguida da blusa, pena que ficou de costas, pois a pessoa que era preferia que ficasse de frente, até para poder encarar o problema literalmente de frente. Aquela posição em que ela fica de costas parece denunciar a sua falta de convicção sobre o tema. Até aqui quem ler o que escrevi já deve está pensando que sou contra o movimento verde. Muito pelo contrário neste caso não sou contra nem a favor, até porque ambos os lados podem e devem estarem cometendo equívocos. O fato é que não dá mais para pensar numa sociedade que sobreviva abrindo mão do progresso até hoje alcançado pela humanidade, visto que trata-se de algo colossal, logo não há mais como retroceder. É claro que não podemos esquecer que no momento a humanidade utiliza-se de uma matriz energética sobremaneira predadora que paradoxalmente garante o modelo tecnológico do qual usufrui. Não sobreviveremos mais sem energia elétrica. Todo modelo pós industrial alicerça-se nesta forma de energia. Imagino como ficará os atores do vídeo quando chegarem em casa e não encontrarem energia elétrica. Certamente o primeiro palavrão será disparado contra o governo. Volto a insistir não sou contra o movimento de preservação ambiental, de modo que aqui aproveito para sugerir aos atores do vídeo que tratem de fazer uma campanha igual e imediata para salvar o rio Paraíba do Sul, responsável pela manutenção de centenas de milhares de vidas que habitam suas margens de dele depende sua sobrevivência. Pobre Rio quanto esgoto sobre seu leito é lançado diariamente, impunemente, indiferentemente ao que lhe aconteça. Não posso esquecer de exaltar a preocupação dos atores do vídeo, nem gostaria de dizer-lhes que apesar de tudo a Amazônia vai acabar como tantas outras regiões importantes para o destino da humanidade foram destruídas, tudo porque a Natureza conspira contra toda biomassa, tanto que fez o homem à sua semelhança quando o dotou de pensamento degenerativo. Por outro lado o modelo de exploração dos recursos naturais utilizados pela humanidade para seu desenvolvimento, nos dias atuais, é o mesmo que já fez desaparecer inúmeras grandes civilizações do passado. O progresso atual tem mostrado que é diretamente proporcional a dano do meio ambiente, o que sem dúvida é um paradoxo. Mesmo sabendo de tudo isto, o homem não para, avança sempre em direção ao desconhecido, e deste modo tem avançado em conhecimento. Pensar em viver primitivamente nos dias atuais significa fome, guerra e destruição. Nada destrói mais o meio ambiente que a guerra. Se falta alimento vem guerra, de modo que, só a tecnologia pode produzir alimento em massa. A densidade demográfica do globo está no limite, é preciso energia para sustentação, se a humanidade vai consegui-la com sustentação, não sabemos de modo que, só lhe resta utilizar a própria tecnologia na tentativa de compensar os desmandos. Insisto, não sou contra movimentos verdes, mas sugiro que se busque fundamentos que possam explicar essa dura realidade!
Por José Antonio da Silva - Cabo Frio -26/11/2011.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
NOVEMBRO
No meio à primavera vivo todas as estações.
Chove e faz sol em minha terra - vivo momentos
de calma de sonhos e de emoções!
Mas também vivo conflitos que me dilaceram!
Vem todos dos meus amados corações.
Em meus pensamentos peço ao Pai que afaste
de mim os corpos sem alma, que rejuvenesça
minha matéria estafada para que eu suporte
a fisiologia da velha idade!
Me conforte e me fortaleça para que eu viva
as intempéries da minha senilidade!
Entre as flores da primavera, os cravos desabrocham
os seus botões expondo a beleza primaveril e enquanto
os admiro, cá falo aos meus botões - tudo poderia ser
tão belo!
O cravo desabrocha e indiferente exala o que de melhor
há em seu odor, sequer percebem em sua volta tanto horror!
Os pardais polinizam as plantas, faz a vez do beija-flor.
O natal se aproxima, a cidade se enfeita, à espera de Noel.
enquanto fico a imaginar a noite mágica que não aprendi viver!
José Antonio da Silva - Cabo frio - 19/11/2011.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
EGO X EGO
Este tema a meu ver pode ser desenvolvido a partir de ângulos diversos, assim sendo, comentarei sobre a enorme dose de egoísmo que existe na relação pais e filhos. Nós os pais, achamos de modo geral que após possuí-los não mais viveremos sem eles. Esse modo de sentir está, infelizmente ligado a cada ato cometido pelos filhos. Tudo que eles fazem ou sentem nos atinge. Achamos que isto acontece em função do enorme amor que temos por eles. Ledo engano, na realidade fazemos do filho o nosso bem amado porque precisamos projetar o nosso amor próprio neles para que deles recebamos o reflexo do nosso próprio amor. Em contra partida o ego dos nossos filhos percebem o quanto somos dependentes desse amor aproveitando-se do fato para fazerem o que bem entendam do nosso sentimento. Ás vezes até exageram quando não avaliam as consequências dos seus atos sobre a nossa saúde. Usam e abusam da nossa fragilidade, tudo porque descobrem que não vivemos sem eles. Afinal sem eles quem alimentará nosso ego. Os filhos não se preocupam com o ego dos pais mesmo quando seus atos possam ser danosos ao mesmo. De modo geral o ego dos pais é coletivo, todos sentimos mais ou menos igual. Os egos dos filhos variam, cada um tem sua própria maneira de atingir o ego de seus pais. Nessa contenda entre os egos, os pais estão sempre em desvantagem, principalmente porque o ego dos filhos é bem maior, às vezes atingindo o tamanho do fenótipo. O ego dos pais é bem menor porque ao longo dos anos a realidade da vida vai consumindo o ego das pessoas. Apesar do contraste o ego é importante por ser o mais eficiente fator de defesa da vida, mesmo sabendo-se que esta via tem mão dupla, visto que, o ego que defende é o mesmo que mata.
Por José Antonio da Silva - Cabo Frio - 18/11/2011.
Gorjeam os pássaros seus últimos acordes,
talvez a última primavera, onde as flores exalam
seus últimos odores!
Quantos horrores !
Tsunamis, terremotos, tempestades, tornados,
o mundo sendo visto do outro lado!
Somos mais de sete bilhões, o mundo não está
preparado- valha-nos Deus!
Os rios estão podres, como os homens podres estão.
Não há mais solução, senão esperar a grande explosão!
A chuva cai à cântaro inundando
e matando, tudo que vive parece o fim anunciado!
O grande final, o juízo professado desde o início
dos povos está próximo! espera apenas que
o petróleo queime os seus ossos,e
não deixe sequer registro fóssil.
Não há mais mamutes na América do Sul
nem bisões nas planícies americanas.
São poucas a baleias nos mares do Sul, mas,
são demais os automóveis nas estradas de norte a sul!
Estão poluídos os ares dos brigadeiros do polo norte ao polo sul,
Estão sufocados os pulmões da terra pelo monóxido venenoso,
sequer podem respirar! Destruíram a mata ciliar,
os rios começaram secar. Queremos água, onde achar?
Os navios poluem o mar, o esgoto humano poluí o mar,
o alimento começa a escassear porque Malthus tinha razão.
O mundo cresceu em vão e não saiu do lugar, vítima
do homem que não entendeu que:" Nenhuma população
cresce indefinidamente."
O homem comete canibalismo,homicídio, genocídio!
Por que? - Sempre formam grupos competitivos para
transmitir seus genes. -Para que? -Para destruir o mundo.
Que propósito tem Deus para o homem malvado?
Que por si mesmo morra enganado?
Quando entenderá o homem o fato que da vida de múltiplas
espécies, depende a sua?
Talvez... Não haja vez para recuar.
Predador natural exacerba, a extinção natural!
Acrescenta a morte num desfecho fatal do que será o mundo
proximamente - Uma incógnita? -Sim uma incógnita!
Não há mais onça, puma nem gavião dourado,
na ilha Barro Colorado,quase não há mais elefantes nem
rinocerontes nas placas africanas, porque os chifres e marfins
são mais importantes! Já são escassas as espécies oceânicas.
Enquanto armas nucleares são abundantes e drogas entorpecentes
matam aos montes. O homem se corrompe facilmente e se consome
repentinamente em busca de se locupletar levando consigo o
meio ambiente!
O mar tem limites apesar do seu tamanho, mas o homem não tem,
vai até se acabar!
O homem está levando mundo ao colapso, a sociedade humana vai mudar!
Jose Antonio da Silva
Cabo Frio - 10/11/2011.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
MEDICINA - UMA ATIVIDADE LIGADA A SOLIDARIEDADE HUMANA
Sempre que
ouço falar de honorários médicos, salário médico, remuneração médica, saúde
suplementar, medicina privada, medicina pública e outros adjetivos mais, fico
confuso. Vejo tudo misturado, algo como um geléia geral. Penso que se deveria
primeiramente separar as diferentes formas de se atuar no trabalho médico. Me
parece que quem é médico do setor privado deve cobrar pelo exercício do seu
ofício, honorários condizentes com o poder aquisitivo dos seus pacientes,
observando as normas do mercado e o código de ética médica. Quem trabalha para
a medicina suplementar, ou seja para medicina socializada deve se ater as
características e peculiaridades desta forma de trabalhar, deve antes de tudo
entendê-la e saber que o seu potencial financeiro é limitado e portanto precisa
de uma administração cientifica para poder ser justa e atender as expectativas
de seus pares, prestadores e usuários, isto é, não deve pensar que vai ganhar
dinheiro, a não ser como fazem os patrões da saúde suplementar, que se
locupletam com o trabalho médico não pago, ou seja usando do conhecido
expediente do capitalismo selvagem que vive do infortúnio da maioria. Quanto a
medicina pública, esta sim, deve ser a mãe de todas porque dela depende a
felicidade geral da nação. Aqui o médico deve ser exclusivo, respaldado por uma
carreira de Estado que lhe pague uma salário justo, como faz com o poder
legislativo e o judiciário. Isto posto, fica o médico funcionário público,
proibido de pensar nas outras formas de fazer medicina, como faz o juiz, o promotor
etc. que não podem advogar a não ser no exercício de seu cargo público. Uma vez
atingido este nível de bom senso e de seriedade acabar-se-ia com a geléia geral
que a meu ver é algo claramente anti-ético. Nunca aceitei bem essa coisa do
médico ser funcionário público, mal pago, prestar serviço para o mesmo patrão
que lhe paga um salário, ou seja o Estado e ainda atender na sua clínica, que
também é credenciada e por ai a fora. Não estou falando de nada de que já não
se saiba, nem tampouco inventado factóides. O que aqui me refiro é de
conhecimento público como também é público a influência deste estado de coisas
no caos que é a medicina em nosso país. Vou mais longe ao imaginar que a
questão é muito maior do que se tem avaliado e portanto não será resolvida
apenas com aumento de salários ou de aumento de valor de consultas e
procedimentos da saúde suplementar. Não se dispõe no momento de um plano de
administração capaz de equacionar tantos problemas de um vez só. Não à toa
todas os planos até agora utilizados foram ineficazes, de modo que a medicina
está na UTI em todos os níveis, não oferece segurança nem qualidade aos
pacientes, em que pese o algo que se consegue fazer. No meio de tantos
percalços a medicina tem feito milagre. A estratégia de luta, que tem as
entidades médicas posto em prática ao longo dos últimos 30 anos tem se mostrado
de muito pouco alcance diante do tamanho do problema. È estranho que só a
classe médica se preocupe em lutar pela melhoria das condições de saúde do povo
brasileiro. É muito estranho que nenhuma outra classe de profissionais de saúde
lute pela mesma causa, o que também deviam fazer em vez de ficarem invadindo indevidamente o ato médico.
Mais estranho ainda é constatar a inércia da sociedade brasileira com a questão
da saúde, fato que reverte em seu próprio malefício. Apesar de tudo apoio a
luta da classe médica neste sentido e até faço parte dela e com muito orgulho,
sempre na esperança de que um dia esta nação acorde para exigir seu direito.
Quando a nós os médicos jamais devemos esquecer que a medicina é uma atividade
diretamente ligada a solidariedade humana e a virtude, portanto, é mister que não esqueçamos da grande lição,
de que devemos: " desejar o menos possível e saber o mai possível".
Por José
Antonio da Silva.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
SUBITAMENTE
Sinto-me atraído pela noite fria,
ainda no começo que também
é o começo da primavera. Abro
a janela vejo a chuva cair em
forma de peneira de um céu
mais escuro que de uma noite
simples - são os nimbus.
Me lembro dos filhos- a esta
hora que estarão fazendo?
Que estarão pensando?
Que estarão Sonhando?
Sequer me ligam andam sempre
ocupados...
E minha amada por onde anda?
Também não me liga -Estará zangada?
A chuva engrossa enquanto
repasso na mente o que se passou
no dia - trabalhei muito, estou cansado.
Gostaria de ler uma linda poesia.
Sinto-me estafado de tanto repetir.
Penso em alguém que pensa em mim,
precisa de ajuda. Devo ajudá-la?
Preciso ouvir a nona sinfonia,
música do amante para amada.
Não sei se devo, abstraio-me, sinto
medo porque me conheço. Não sei ajudar
por ajudar, espero troco, me apego,
confundo os sentimentos, misturo o
abstrato com o concreto, me perco!
Melhor não falar...Sou um tropeço!
Mesmo assim...
Tenho muito para dizer, não sei calar.
Mais chuva, mais frio, mais medo, mais
pensamento vazio, fico disperso.
O silêncio é absoluto onde moro, seria
sepulcral se não fosse melancólico.
Vejo janelas através da janela,
estão todos ligados na novela, sem saída
também me ligo na tela - da novela - claro.
Participo do enredo que imita a vida, mas
me esqueço dela, da minha, da vida que
é quase uma novela!
A vida sem ela não é bela é apenas a vida.
A noite sim, é bela porque é calma, é onde
me preservo, me resguardo dos males
das trevas, durmo para sonhar no vale
das ervas, das plantas das flores da primavera,
para acordar sabendo que vou pensar tudo
outra vez! Onde está ela, por que me ama tanto?
Também a amo, a quero, a desejo, a venero!
Cabo Frio - 03/10/2011.
José Antonio da Silva.
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Só, então posso sonhar, sair do inverno
domingo, 28 de agosto de 2011
A MORTE DO AMADO
Quando morre o amado, após muitos anos de convivência, o amante perde a capacidade de amar novamente. Nem todos no entanto, passam por este momento difícil e lamurioso, fato que nos faz crer que a incapacidade que se apresenta nestes amados é na realidade a dificuldade de conhecer a si mesmos.
Até reconhecer novamente sua capacidade de amar ou não, o amante que perdeu o amado se lamenta, chora, se consome. Abstraindo um pouco nesta questão tem-se que, na realidade o amante não ama o amado em si, mas antes ama a si próprio, pois que não fazendo idéia desta condição, pensa amar verdadeiramente o amado, às vezes de corpo e alma. O fato é que para que nos amemos é preciso projetar este amor sobre nosso semelhante, para que o amor reflita em nós. Se assim não fosse jamais seriamos amantes após a morte de nosso amado. Esta é a impressão que se tem imediatamente à morte do amado.
Nesse caminho, o amante pode também ser amado, desde que o amado também o ame, isto é, desde que o amor tenha correspondência como contrapartida. Há no entanto o caso em que o amante ama sozinho, ou seja quando o amado não o ama. Neste caso o amado pouco ou quase nada sofre com a morte do amante, ao passo que se morre o amado o amante sofre pelos dois.
O amante busca o amor muito mais para se completar que para completar o amado, mas nesta via é surpreendido pela acomodação da permanência longa dividindo os percalços da vida, de modo que acaba por alimentar o interesse numa união definitiva e sem prazo para terminar, ocasião que encerra esta questão à revelia de sua própria consciência e acha que o seu amado é tudo ou nada.
Quando morre o amado, o amante descobre que se desconhece, passando a achar que o mundo acabou, não percebe sua própria natureza capaz de tornar-se amante de outro amado e viver as mesmas emoções que viveu com o amado morto.
Muitas vezes o amado desejava morrer porque não suportava mais a presença do amante, sempre a cobrar-lhe sem nada lhe dar em troca, razão porque às vezes desejava terminar a relação em busca da felicidade. De modo geral o ego do amante é hipertrofiado em seu favor, o que é muito danoso para o seu amado.
Amamos na realidade a nós mesmos através do amor refletido a partir do amado. Abstraindo-se, descobre-se que a natureza humana não permite que nos doemos de corpo e alma ao amado, visto que, o amado não é prioritário em relação ao amante, ou seja na hora de morrer que morra o amado. Isto não impede que ao longo da história encontremos casos extremos em que o amante reage à morte do amante, matando-se é quando estamos diante do ato extremo da loucura, talvez a forma mais bela do amor, mas pura, mais próxima do EROS, celeste, claro. Portanto se você amante perdeu seu amado, antes de chorar reflita sobre a virtude de conhecer a si mesmo, afinal de contas, o morto poderia ser você...
Por José Antonio da Silva, sem nenhuma pretensão...
Cabo Frio - 28/08/2011.
sábado, 6 de agosto de 2011
SEM VOCÊ
Sem você fico perdido
não sei o que faço,
se como as unhas,
ou se fumo um cigarro
se chamo alguém
para um afago,
se zombo da sorte
ou se cuspo de lado!
Se busco a esbórnia
Para esquecer
o tamanho
do tempo longe de você.
Fico intranquilo, desassossegado,
Com enorme vazio
No meu peito calado, rasgado
Sofrido de tantos percalços.
José Antonio da Silva
Cabo Frio – 22/05/2011.
VAZIO
Onde andará…Nesta noite de sábado?
Está tão fria.
Certamente entre uma e outra estória
desfruta de um bar entre
muitas baforadas e um bom papo,
tomando um gole de alcóol,
rodeado de amigos alienados
consciente de que a noite é seu legado.
Sequer imagina os corações acelerados,
na disritimia dos desconsolados.
Curte a companhia dos desgarrados
insensivel ao que sente os solitários.
Nada sobra para quem curte um devaneio
em forma de mulher,
senão a lembrança do inusitado.
José Antonio da Silva
Cabo Frio – 30/05/2011.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
UNICIDADE DA ORIGEM
Na ânsia de compreender
A unicidade da origem,
De todas as coisas palpáveis
E concretas, desde a complexidade
Dos tecidos até a forma física da matéria,
Me perdi nos meandros da metafísica,
Para me achar na clareza do abstrato.
Misterioso e complexo substrato,
Dos que pensam as mentes inquietas
Que tentam entender o que não sabem.
Mergulhei no mundo dos incertos contatos
Em busca de um elo mais claro, de ligação,
Entre a forma física e a visão, do que
Vejo em terceira dimensão, sobre a face
Da terra, ou da imaginação dos homens
Que pensam ser o cosmo fruto da criação,
De apenas um Deus, cuja ação, sublima
Toda força e ambição dos mortais que buscam
explicar, mesmo sem saber,
a origem metafísica do ser.
José Antonio da Silva – Cabo Frio, 14/08/2009.
(Como explicar a diversidade tecidual dos humanos,
A partir de uma única célula – O ovo?.Mas...)
segunda-feira, 20 de junho de 2011
RIO - CIDADE LUZ
Rio tua noite é um chão de estrelas
Por tuas luzes teus filhos seduzes.
Eles te curtem – A tua beleza, a tua vida
Teus perigos e teus poderes!
És um ópio que alucina e obnubila a razão.
Tuas ruas teus segredos me dão medo,
Porque no fundo és mistério e no escuro
Um cemitério!
Os teus filhos se degladiam para sobreviver,
Em tuas ruas, tuas esquinas e guetos sem
Contar a orla que tu subestimas pela omissão.
Tudo lhes oferece, o que é do bem e o que é do mal,
Depois escondes os que desaparecem.
Em teu seio é tão difícil viver, quanto fácil é morrer.
Fascinas com tua geografia do lado onde vive a burguesia,
Mas afrontas com a desigualdade em que vive a maioria.
Os desvalidos da periferia.
Teus jovens parecem perdidos, em geral são notívagos,
E cultuam a boemia – são iludidos por tuas luzes ofuscantes
Que os cegam para verdade da cultura inútil que os embriaga!
És indiferente ao que acontece para o bem ou para o mal,
A todos deslumbras com os teus hábitos que ameaçam os viventes,
Pelo sofisma que se mostra diferente.
Não administras tuas diferenças, por não ter importância os diferentes.
A tua maioria está esmagada vítima de uma minoria que esmaga.
Teu coração tem múltiplas artérias, onde o povo no papel de sangue
Corre num circuito fechado, sem volta e sem sentido!
Tua dinâmica é autofágica, onde teus filhos são fagocitados.
Com tua beleza embotas a razão dos que vivem por um triz,
Em busca de tua emoção!
Rio, parece que jamais acordarás deste teu sono opiáceo,
Que nocauteia teus filhos como a prepará-los para morte!
Mesmo assim tua noite é um chão de estrelas, és o céu pelo avesso,
Inferninho dos alienados, Rio dos percalços, berços dos malfadados...!
José Antonio da silva,
Cabo Frio – 18/06/2011.
quarta-feira, 8 de junho de 2011
ORAÇÃO DO NORDESTE
Chão de mato seco
De terra rachada
De bichos que morrem
Por falta d’agua.
De homens destemidos
Que alardeam uma
Bravura sem sentido
E acreditam na força do destino.
Quase sempre em sua maioria
Comem uma vez por dia
Fato que atribuem à vontade de Deus,
Vivem sem as benesses do progresso,
São vitimas de seus congêneres
À quem paradoxalmente admiram,
Resignam-se e aceitam a exploração do próximo.
Vivem na miséria, próximo ao primitivismo,mas,
Acreditam soberbamente em Deus e que
Ele sempre lhes proverá.
Não aceitam a verdade sobre seus líderes
Ignoram sua moralidade e fazem pouco caso
De si próprios – comida em suas mesas é sempre
Uma certa incerteza!
No sertão vivem da brisa seca da seca
Que sempre assola a região em contraste
Com o clima litoral que habita as praias colossoais
De piscinas calientes de corais – onde habitam
Os poderosos que submetem a massa à escravidão!
Senhor Deus dos desgraçados olhai por este povo
Condenado a viver sob os pés dos seus irmãos – Amém!
José Antonio da Silva,
Cabo Frio – 08/06/2011.
sábado, 4 de junho de 2011
O VELÓRIO
Ali inerte deitado com o olhar virado para o céu, ainda que de olhos fechados podia ver através do teto dado sua nova condição, uma nova vida. Mãos cruzadas sobre o peito, em completo e absoluto silêncio postava-se indiferente a dor que provocava sua morte em seus entes mais queridos que não aceitavam tão inesperado desenlace, para eles absolutamente precoce. Jazia coberto por flores amarelas que lhe enchiam o caixão e que pareciam vivas e regadas pelas lágrimas sofridas dos seus familiares e amigos. Ainda vigiado de perto pelo seu peri-espírito, nem com este interagia. Sabia que o seu espírito a estas horas flutuava de felicidade povoando mundos abstratos pela liberdade que obtivera ao se livrar do seu corpo, agora nada mais que natureza morta pronta para se desintegrar voltando à sua condição inicial de pó para reintegrar-se ao universo. Certamente seria dentro de pouco tempo poeira atômica. Pessoas choravam porque não sabiam do destino daquele corpo que há tão pouco tempo pertencera a este mundo por longos sessenta e um anos. Ele, já então finado sabe o tamanho do tempo que viveu, que certamente lhe parece muito longo e portanto, não tem de que reclamar pelo fato de ter deixado a vida terrena. Olhando-se bem para a sua face pálida, exangue, notava-se que estava satisfeito, pois na realidade demonstrava a satisfação do seu espírito o qual viveu a angústia dos últimos trinta dias, período em que viveu entre a vida e a morte. Tamanha era a satisfação do seu espírito que o julgava egoísta. Sabia no entanto. que era normal a atitude do espírito ao querer desencarnar para voltar ao seu mundo, mesmo quando ainda não se purificara de todo. Compreendia o castigo que era para ele viver a condição de espírito encarnado por conta de sofrer as provações e as expiações que o levaria a purificação. Em seu descanso eterno que acabara de começar, o finado não mais interagia com os seus circunstantes, todos pesarosos buscando uma explicação que lhes parecesse lógica para justificar a morte. Diante de tal realidade tinha este vontade de lhes transmitir porque a vida culmina com a morte, uma vez que à esta altura esta verdade não mais lhe era estranha. Mas como lhes falar se estava morto, não podia mais sequer utilizar seu espírito para se comunicar. Sabia-o já em outra esfera, no mundo espiritual, na vida eterna. Então, pensava: -Quem garante que não voltaria a compor materialmente outro ser humano, que receberia o mesmo espírito que desencarnara de seu próprio corpo? Pensava ainda, por que tanto choro se os que choram nada sabem do que comigo acontecerá? Diante destas indagações, lamentava-se por não poder consolar seus entes queridos e tão sofridos. Já sabendo de tudo que lhe aconteceria por que não lhe era dado o direito de tranqüilizar seus amados filhos, a viúva, os parentes, os amigos? Isto lhe parecia injusto. Por outro lado não lhe cabia penetrar tão profundamente nos mistérios divinos. Resignava-se, até mesmo porque já não sofria diante das emoções humanas, pelo contrário, já nem era mais humano, mas apenas matéria orgânica em vias de desintegração. Logo voltaria a compor os elementos químicos da natureza. Pensava no vescículo bíblico constante de Eclesiastes assegurando que surgimos do pó e para o pó voltaremos. Pensava por ouvir dizer, já que sequer jamais lera uma palavra da Bíblia. Vinha-lhe então a vontade de dizer todas as coisas que não dissera antes de morrer, muitas vezes por conveniência, outras para preservar sentimentos diversos ou até para não magoar. Mesmo assim achava que devia ter dito sempre, tudo que sentia, só assim poderia ter sido realmente verdadeiro. Mas sabia que assim como nem só do pão vive o homem, nem só da verdade ele também vive. Mesmo morto, de semblante indiferente a dor que provocava nos seus entes queridos, imaginava que não era bem assim, podia sentir num fundo um sofrimento póstumo. Mas o que fazer se não mais lhe era possível interagir com os condolentes, amigos e parentes todos tristes e constrangidos diante da sua morte até certo ponto precoce. Sentia-se algo responsável por tal precocidade pois ele mesmo colaborara com o fato. Chegara a pensar que criara uma situação de tragédia anunciada. Enfim tomava consciência pós-morte que nada fizera nos últimos tempos para evitar tão indesejado e prematuro desenlace. Na realidade fora negligente com a sua saúde, não acreditara na perecividade da matéria. Por outro lado pensava existir outra vida, mas concreta que abstrata por ser eterna. Neste momento eximia-se de quaisquer tipos de críticas ou imputações. Tinha consciência de que escolhera a vida que lhe parecera melhor. Sabia também que nenhuma seria perfeita e finalmente compreendia que o limite entre a vida e a morte é indefinido. A morte lhe parecia única certeza da vida , um axioma, uma fatalidade atroz que a mente esmaga. A morte é o maior algoz da vida. Aos que morrem a vida eterna, aos que ficam a possibilidade de morrer a qualquer instante da vida.
Por José Antonio da Silva - Cabo Frio 04/06/2011.
terça-feira, 5 de abril de 2011
NOTURNO
A noite caindo,
O mato sumindo
E eu sem o pé no chão,
Imaginando coisas
Que só se imaginam
No fim de um verão.
Uma bruma outonal
Envolve minha vida
E mostra o tom da solidão.
Sou eu ou ela, ou o fim
De uma paixão!
Que tão tarde desabrochou
No meu velho e sofrido coração,
Que mesmo não querendo
Basta pensar para morrer vivendo!
José Antonio da Silva
Cabo Frio-29/03/2011.
pensamento
terça-feira, 1 de março de 2011
PARAIBA PEQUENINA
Paraíba Pequenina, magnânima mulher,
mãe de todos nós, quantos sóis vivi sob
tua bendita luz que meus caminhos ilumina,
até hoje e sempre para que vivas em minha
lembrança com a graça de Deus.
Saí do teu seio, ainda menino, não pela
Minha vontade, mas pela força do destino.
Quantas vezes a luz de tua lua iluminou meus
Passos de menino na noite escura da vida
Para me mostrar o caminho de casa, quando
Voltava das farras notívagas de domingo,
Menos menino, mais jovem, quase homem,
Ainda indefinido vivendo sonhos distantes
Que me deixavam deprimido.
Paraíba teu solo quente, teu sol do oriente,
Ainda chega primeiro em tuas terras, mais
Que em outras terras das Américas calientes!
O teu sol de verão brilha mais que diamante, na
Ponta do cabo branco a leste de mares brandos,
De belezas estonteantes e falésias gigantes!
Paraíba teu solo queima no sertão ardente,
Enquanto em teu mar se molha os pés em águas quentes,
Das piscinas incandescentes de águas cristalinas.
Teus mares são mais verdes, teus ventos mais benéficos,
Teu horizonte mais próximo de minhas vontades.
Sob o teu manto rubro negro encontro a sombra da paz
E me acomodo, sinto-me ninado pelo teu afeto, respiro
Melhor o ar que me bafejas, e descanso a sombra
Do teu filho, coqueiro!
José Antonio da Silva,
João Pessoa – 29/09/2010.
(A Paraíba é meu berço e...)
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
O TEMPO E A VIDA
O tempo passa leva a graça,
fica a lembrança da praça,
da igreja, da escola e da
primeira namorada.
Leva tudo deixa quase nada
senão os cabelos brancos e a
pele enrugada.
Vão-se verões e primaveras,
esperanças e quimeras.
Pouco se vê, chega a catarata.
O tempo passa leva o sorriso e as
madrugadas.
Deixa apenas as horas choradas,
leva a força, leva a garra,
fica a fraqueza e a nostalgia da farra.
Olhares perdidos olhando a rua.
Não vê ninguém que se conheça,
a cidade está morta,
Já não existem, já foram todos
ou quase todos.
Surge a sensação de ser o próximo.
Buscar o passo não pode está torto, o
pulo está quase morto. Há artrite.
Há jovens que debocham. Vêem o velho
que não serve.
Resta a tristeza no crepúsculo da vida,
Muitas lembranças de horas vividas,
Quando a vida ainda era vida.
O tempo leva, arrasta, destrói
vidas pregressas, corridas vividas com pressa.
Às vezes não, mesmo assim o tempo leva.
Primeiro dá depois tira,
O tempo é o grande adversário da vida.
José Antonio da silva,
Rio de Janeiro – 03/01/2010.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
BUSCA
A cidade dorme enquanto divago
na escuridão da noite!
No passado um ex-amor,
no futuro uma possibilidade,
no presente
a dura realidade de viver!
Noite a dentro o tempo passa,
o sono para mim seria uma graça,
se aparecesse!
Viro de lado penso no sexo,
mas de repente acho sem nexo,
falta vontade de me saciar.
Penso na vida do outro lado, quando virá?
Penso no povo, no mundo , na gente,
penso em tudo que perturba uma mente,
mas não há jeito, o sono para mim
é às vezes indiferente!
Sonho acordado com um lugar que não existe!
José Antonio da silva
Rio de Janeiro- 31/12/2010.