sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

EM QUE PESE O CALOR DA NOITE

EM QUE PESE O CALOR DA NOITE...

Em que pese o enorme calor que faz esta noite, não é suficiente para aquecer o frio que sinto na alma. Não sei bem o porque de tanto frio. Nem tão pouco sei se alma sente frio ou até mesmo se existe. Acho que sim, pois o mal-estar que sinto nas entranhas, só pode ser da alma, coisa do espírito, caso contrário, seria uma dor visceral, mas isto tenho certeza que não sinto.
No fundo sinto mesmo um grande vazio existencial, assim com se me faltasse algo de muito importante. Tentei dormir, mas cadê sono- tentei ler mas cadê livro, embora rodeado deles –tentei escrever, mas cadê dedos, mesmo com os dez que tenho nas mãos. Na realidade não me sentia. Cheio de sentimentos de culpa, ora pelo que fiz, ora pelo que deixei de fazer, vou varando a noite em completa e total solidão, descrente de tudo e de todos busco resignação na minha insignificância diante do mundo. Só não digo de todos, porque sei com certeza que há os mais insignificantes que eu. Agoniado fui para varanda ver a rua, mas não tinha rua, olhei pra lua, mas não tinha lua. O mar, não via estava escuro. Comecei a pensar porque estou assim, com tamanho desassossego. Descobri, não sei a razão da vida. Pronto acalmei, não, não acalmei, apenas cansei. Cansei de pensar, de querer descobrir chifre em cabeça de cobra. Sentimento de culpa. Pensei. Por que sinto isso se Nietzsche não sentia? Mas, Nietzsche é Nietzsche eu sou apenas Zé. Falta algo, um bem querer. Um bem querer que quero ter. Por que me tiram um bem querer se quero ter? No calor da noite não há prazer, mas antes desgosto de viver. Ás vezes sonhamos sem querer como acontece com coisas sem nexos, distante de tudo que tenha ocorrido ou realmente exista. No calor da noite o que se faz mesmo é suar até desidratar. Não há aspiração, nem comunhão como imaginamos que devia haver. O sono é leve ou não existe, a madrugada chega e o dia amanhece sem nada acontecer. No calor da noite a noite é de insônia onde pensamos nunca mais dormir, a cabeça dói e vem a tonteira,
e um monte de besteira que só angustia. Na realidade não é um frio que invade a alma, mas a dura realidade de viver. Não vivemos a vida do ponto de vista biológico como devia ser; de forma mais simples, mas antes buscamos complicá-la introduzindo os aspectos que realmente contam, que são os sociais. Inventamos regras de mais, a maioria em descompasso com a fisiologia humana, digo contrárias. Inventamos isto porque não acreditamos em nós mesmos,
não somos capazes de segurar nossas próprias barras de modo que, para não nos degladiarmo-nos, criamos as instituições para intermediar as relações. Verdade que nem sempre damos bolas para elas, em que pese o calor da noite, mas sem elas nos sufocaremos, até mesmo pelo calor da noite. No calor da noite o ar é rarefeito, respiramos mal e buscamos oxigênio para desanuviar o raciocínio. Ai é onde mora o perigo porque quando raciocinamos é sempre para o lado mal. Mesmo no calor da noite. A noite é mais longa, viramos mais vezes na cama, temos vontade de levantar, mas ainda é escuro, fora e dentro da gente. No escuro não vemos,em que pese a vantagem que seria se víssemos. Dominar o escuro seria a proximidade com o abstrato o que esta por trás do que não vemos. Planejariamos o que fazer, evitaríamos os desastres, ficaríamos bem próximos Dele. Em que pese o calor da noite. O resfriaríamos, resfriando-o resfriaríamos também o cérebro que produziria com menor margem de erro as respostas a tantas perguntas como o que nos acontecerá depois da morte? Seremos apenas energia invisível? Voltaremos a condição de átomos? Habitaremos em outras formas? Reencarnaremos? Voltaremos como vegetal? O átomo é realmente eterno? Tudo isso se passa no calor da noite enquanto vivemos a catalepsia do sono. Morremos no sono para acordar na manhã de um novo dia.

José Antonio da silva – Cabo Frio -25/12/2009. No Calor da noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário