sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ROSTOS FACES E FACIES

ROSTOS, FACES E FACIES

Lembro anos idos , corridos, vividos,
que hoje distam três décadas.
Mudanças de rostos, todos noviços.
Rostos diferentes, de homens masculinos!
cosmopolitas, vindos de múltiplos
Lugares. Eu recém chegado, debulhava
medo dos novos ares.
O Rio era tudo, a grande cidade,
maravilhosamente cidade de sonhos.
Eu, incrédulo do tamanho das coisas
que via. Via tudo muito, nada era escasso.
Mas havia rostos e faces sofridas, umas
sentidas, outras deglutidas pela fraqueza,
eram fácies de doentes cronificados, em
suas doenças em seus pensamentos,
de tantos sofrimentos.
Faces lindas também se via de castas
donzelas que imaginava serem belas.
Não eram castas, apenas donzelas,
que se desejava a revelia.
Fácies doídas, ressentidas de mais um dia,
sem perspectivas de alforria, que as livrassem
da escravidão branca.
Hábitos diferentes dos que eu conhecia,
fala diferente da que eu sabia.
Inúmeros rostos, grandes ferimentos,
alguns sofrendo, outros em agonia, outros morrendo.
Tudo muito rápido, diferente dos meus dias,
que vivia a sombra das tamarineiras das praias
onde cresci. Diferente do Campo de Santana onde
me estabeleci, para viver a grande cidade dos
meus pensamentos pregressos, em busca do
sucesso de ser um grande cirurgião,
e receber a todos dando a minha mão.
Eram muitas faces de todos trabalhando,
muitos rostos contidos, restritos de aflição.
Eu, no meio de tudo quase próximo da extrema-unção,
tentava entender o tamanho do mundo para onde
migrara, por necessidade do aperfeiçoamento da minha
Profissão!
Faces caricatas me estenderam a mão, bisturi de um lado,
no outro o formão. Quase não havia osso que não fosse
ao chão. Soava a martelada de tantas osteotomias,
Que varavam noites e entravam pelo dia.
Rostos compreensivos, autoritários e evasivos, era o dia a dia,
de um humilde nordestino recém chegado. Que abismado
vivia a sonhar. Grandes sonhos, sonhos pequeninos, mas
todos sonhos!
Em cada rosto via um sonho, em cada face via a beleza, mas
Em cada fácie vi a morte!

José Antonio da Silva,
Cabo Frio, 15/01/2010.

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