domingo, 31 de janeiro de 2010

A VIDA DEPOIS DOS SESSENTA

A VIDA DEPOIS DOS SESSENTA
Há quem ache que a vida após os sessenta é a vida após a vida. Realmente se pararmos para pensar outra sensação não teremos senão essa. Eu p.ex. há pouco mais de dois meses descobri que estava com uma doença grave no meu rim esquerdo, doença maligna que me mataria em pouco tempo caso não houvesse sido descoberta por acaso.
Costuma dizer-se que não há mal que não traga um bem. No meu caso foi possível constatar que tal provérbio cumpriu-se na integra, posto que acometido de uma seqüela pulmonar do mal da gripe, pude descobrir o que realmente era o mal em mim, ou seja atirei no que vi e acertei no que não vi ao submeter-me a uma TC de pulmão em busca de um mal que já sabia não existir. Para mim foi mais um caso onde se pode acreditar que Deus escreve certo por linhas tortas. Foi sem dúvida a Sua vontade de me preservar que me mantém vivo, quem sabe talvez para cumprir alguma de Suas missões.
Depois dos sessenta o caminho é este com a máquina falhando a cada instante. É o tempo em que passamos a viver às custas da medicina com seus médicos e os seus remédios. Onde quer que nos encontrem será grande a possibilidade de portarmos um enorme envelope cheio de exames em sua maioria de prognósticos sombrios.
Concordo com quem acha que a vida após os sessenta é a vida depois da vida. Estamos mais próximos da morte de tal forma que às vezes nem sabemos porque ainda estamos vivos. Imaginem uma máquina funcionando ininterruptamente por sessenta anos, enfrentando todas as intempéries do tempo, convivendo com a decadência fisiológica dos órgãos e tecidos, lutando contra cobras e lagartos para sobreviver, isto sem contar com o ataque incessante dos animais menores e invisíveis a olho nu como os vírus, as bactérias, os protozoários. Mas também não podemos esquecer os ataques constantes e impertinentes dos metazoários ladrões, assassinos, políticos e outros bichos mais.
Durante todo este tempo estivemos a mercê de forte emoções, vivendo presos aos grilhões do amor, da dor, da traição, das aflições. Correndo o risco dos infartos dos avcs ou da ruptura dos aneurismas. Tudo isto quando falamos do risco intrínseco; imaginem quando falarmos dos riscos externos, da falta de segurança, do medo de viver sozinho, da incerteza do amanhã.
Certamente a natureza não escolheu a melhor maneira de nos retirar da vida; em sua escolha parece sentir prazer em nos fazer sofrer. Por que não nos dotou de um sistema de auto-manutenção de nossos órgãos para que as alterações fisiológicas pudessem ser corrigidas automaticamente, principalmente as referentes ao desgaste do tempo? Não que pretendêssemos ser eternos, mas que pelo menos nossas energias se esgotassem de forma instantânea como qualquer outra máquina. Imagino que pelo fato de sermos matéria viva temos nossas peculiaridades, mas, que seria ótimo se tivéssemos um botão do tipo Power para nos desligarmos quando nos sentíssemos cansados, isto seria.
Viver a vida após os sessenta é nada mais que esperar pela morte, portanto melhor será não termos consciência disto e continuar vivendo até que a vida se canse de nós.
José Antonio da Silva. João Pessoa, 29/01/2010.

Um comentário:

  1. muito bom o texto tio zé! Apesar do pessimismo, concordo com o que você diz. Acho que o maior passo que o homem tem ainda a realizar é aceitar a morte como parte da vida.
    beijos

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