quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SAÚDE SUPLEMENTAR E O MÉDICO –MANIFESTO

É no mínimo bisonha a situação do médico que tem como mercado de trabalho o Sistema de Saúde Suplementar. Nele, trabalha de sol a sol, paga todos os impostos e mais alguns, ganha quase nada, não tem garantias trabalhistas, paga seu próprio plano de saúde e de sua família, passa o tempo todo apoiando lutas pela melhoria da remuneração do seu trabalho pouca coisa consegue a duras penas, fica dependente deste mercado deficiente em termos de recursos materiais, fica a mercê de setor de recursos humanos incompetente para dar conta de uma gestão eficiente por não ter alternativa.
Ao longo do tempo o médico descobre que nem ficar doente pode, salvo raras exceções onde algumas cooperativas pagam um tipo de seguro para em caso de doença segurá-lo por seis meses, custo este que acaba saindo do seu bolso pois todos os planos são mantidos única e exclusivamente do trabalho médico. Para estes casos a doença tem prazo para começar e para terminar, como se isso fosse na prática, possível.
Coitado do pobre que continuar doente depois dos seis meses pré-estabelecidos na apólice do seguro saúde. Depois de vencido, só resta ao moribundo reclamar com o bispo.
Na saúde suplementar os consultórios estão abarrotados de consultas baratas a preço de banana – só para usar a expressão uma vez que banana não é mais um produto barato posto que, até a banana teve sua vez de influenciar os índices inflacionários.
Na saúde suplementar o médico encara jornadas cavalares de trabalho, nos consultórios, hospitais e centros cirúrgicos onde varam madrugadas operando pacientes eletivos com a finalidade de atender sua necessidade orçamentária.
Na saúde suplementar os caciques glosam. Há os que roubam e os que são roubados a luz de explicações que não justificam. Há cumplicidade.
Na saúde suplementar o dinheiro gerado pelo trabalho médico sustenta legiões de empregados, muita vez fruto de empreguismo pelo empreguismo e também de nepotismo.
Na saúde suplementar há os que trabalham e os que se locupletam, há os que levam as claras e os que o fazem por debaixo dos panos. Há os que mentem e ludibriam os seus pares.
Na saúde suplementar há os privilegiados e os desvalidos, aqui incluem-se, as categorias; médicos e usuários. Há descabida intervenção do governo através da ANS, órgão criado para apenas normatizar o famigerado mercado da saúde. Como se saúde fosse mercadoria!
Na saúde suplementar, em nome da democracia a maioria elege e a minoria manda.
Na saúde suplementar 20% absorve 80% dos recursos financeiros gerados pelo trabalho médico enquanto 80% fica com o resto.
Na saúde suplementar há o bizarro desequilíbrio das tabelas entre as especialidades, que pendem sempre em favor do mais fácil.
Na saúde suplementar o trabalho médico se tornou um grande arrecadador de impostos para os governos dos mais diferentes tipos – IR –PIS-INSS-GPS-COFINS-FGTS-ISS- e o resto do alfabeto. Há até bitributação.
Mas, na saúde suplementar não há só isso, há também o lado bom, que infelizmente nunca sobra para o médico, aquele que passa o dia todo sentado atrás da mesa ralando, mas antes para aqueles que são donos de poderosíssimas máquinas de alto alcance tecnológico e modernidades preparadas para faturar, capazes de provocarem a maciça migração das filas do simplório mas eficiente RX para as filas da ressonância magnética, da ultrasonografia, da densintometria tudo em nome qualidade do atendimento mas, na realidade causadoras de déficits memoráveis ao sistema. Convém salientar que neste caso, infelizmente o médico participa com sua parcela de culpa, já que é ele que solicita os exames. Por outro lado há uma margem de pressão e indução – intríseca dentro do sistema que contribui para sua atitude de solicitador de exames complementares sofisticados – infelizmente muitos não sabem quão inócuo se torna p.ex. um exame de ressonância magnética que não tem uma indicação ajustada.
O uso destas máquinas baseia-se mais em critérios mercadológico do que propriamente técnico uma vez que a esmagadora maioria dos exames gerados por elas são negativos, conseqüentes a solicitação inadequada ou má interpretação de quem assina o laudo. E tem mais, se sua utilização obedecesse critérios puramente técnicos, provavelmente seus donos não as pagariam ao fornecedor dado o tamanho de seus custos. Devo dizer que não sou contra as máquinas, mas antes defendo o uso racional- Há colegas que nem sabem para que servem, são apenas donos de um negócio!
Fala-se muito na eficiência destas máquinas quanto à qualidade do atendimento e a segurança do diagnóstico, mas, fala-se pouco ou quase nada sobre o dano financeiro que elas provocam dentro de um sistema de saúde sabidamente deficitário de modo que , quando o caos se estabelece e falta o dinheiro, vem o dirigente e diligentemente propõe o pró-rata nas cooperativas, enquanto os outros planos mandam a glosa indiscriminada escondida em sofisticados softs indecifráveis e de forma insofismável surrupiam na mão grande o trabalho suado do médico que nem um bispo tem para reclamar – aliais se tivesse, este certamente lhe diria – meu filho vá roubar também!
Parece desabafo não é?... Mas infelizmente é a realidade que requer com urgência o re-ordenamento deste sistema assim como seu redimensionamento e por que não – até sua extinção em beneficio da classe médica.
Vamos repensá-lo!...

Por José Antonio da Silva
Cabo Frio – 03/10/2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário