quarta-feira, 28 de outubro de 2009

QUEM SOU

QUEM SOU?

Quem sou,
porque não me dizem
quem sou?
Pareço não ser,
neste mundo, que desconheço
porque não o sinto,
embora seja e exista em carne e osso,
nada por ele faço, mas,
não desisto de nele ser o que mereço,
pelo que faço, pelo que quero,
pelo que desejo ou detesto, fazer sem querer!
Tudo faço pela paixão;
meu motivo é só coração, meu corpo também,
contesto a razão, de fazer tudo certo.
Dizem que sou bom; mas no fundo,
sei que não presto!
Prestar é apenas um gesto,
às vezes entendido,
outras negativo ou incompreendido,
pode ser escuso, não ser aceito, embora
haja sempre um jeito de ser compreendido,
ou aceito, no mundo onde vivo, o qual
rejeito porque não o conheço!
O que pensem de mim pouco importa, é relativo,
a vida não tem volta, nos coloca sempre contra a porta,
de onde se vislumbra a natureza morta!
Morrer é certeza de vida! Quem aposta?
não que eu queira morrer, assim de costas
como se a vida fosse uma bosta! Não é...É pior!

José Antonio da Silva,
Cabo Frio, 27/10/09.

VI A AUSENCIA

VI A AUSÊNCIA
Ontem vi você,
Não era só você,
Eram todas você.
Eu imaginava; elas dançam,
Esbanjam alegria,
Então eu via toda energia
Que em seus corpos havia
O que não queria,
Porque não era você que eu via,
Apenas via nelas tua energia,
Tua ausência, tua rebeldia,
Enorme falta de você eu sentia
Quando em outro dia ali mesmo
Juntos, cedemos a tentação do encontro,
À margem do risco e do desencontro
Eu vi você em carne e osso,
E o desejo puro cobria teu rosto,
E me deixou roxo de medo e de susto.
Assim fui pensando, a noite passando,
De todas fui me aproximando,
Para esquecer você que ali não estava,
Senão em minha lembrança
Que me acalentava!

José Antonio da silva.
...Uma vez no tempo em algum lugar...!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

DISPARADA

DISPARADA

Vi o tropel da boiada,
estrondoso, em disparada,
com medo da vaqueirada,
montada em seus cavalos,
Tangendo o gado a pauladas!
O tropel era medonho, mais
Parecia o trovão da chuva
Da madrugada, espantando
A peonada com medo da trovoada.
Todos pareciam um só corpo
Num galope alucinado
Cujo barulho das patas
Enchiam o ar de poeira
Anunciando o estouro
Da boiada na carreira.
Carreira de gado é fogo
Ninguém segura o rojão
O gado só pára mesmo
De cansaço ou exaustão.
Depois que isso acontece
A vaqueirama cansada
Dasapea , deita ao chão.
E aí já de noite, o gado
Muge cansado, o vaqueiro
Ali deitado, pita um pouco
O seu cigarro, ouve o
Bacurau cantar,
olhando a lua nascer
Sossegado adormece
Até o amanhecer!

José Antonio da Silva – Cabo Frio – 27/08/2008.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

CARNAVAL

CARNAVAL

Festa profana, onde a
carne esquece o espírito.
Esquecido, o espírito se
afasta da carne nefasta,
que expõe sua face putrefata,
à degenerescência moral.
Quase morta, a sociedade
inerte se farta das orgias
Carnais, e outras farsas em
buscas de prazeres enrustidos,
embora naturais, inconfessáveis,
frutos da inconteste fragilidade,
denigre o homem e sua imagem,
fere de morte a dignidade!
Homens bêbados, perambulam
pelas ruas encharcados da
bestial euforia dos drogados.
Perdidos a caminho da orgia,
buscam fêmeas que pululam alucinadas
e se entregam a barbáries e sodomias.
Tudo podem, tudo é consentido,
enquanto a massa ignorante assimila;
faz da festa o templo da verdade,
onde acham que Deus está presente
e faz parte do bacanal decadente,
que aliena, as pessoas e suas mentes!

José Antonio da Silva – Rio de Janeiro-21/02/2009.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

CORPO E ALMA

CORPO E ALMA

Não quero apenas tua carne nua
mas antes te quero toda até a alma,
para ir além do corpo e penetrar na calma
sombra do abstrato para te trazer à tona!
Percorrer as curvas da tua forma humana,
que te substancializa na cama ou no pensamento.
Sentir-te minha é o meu desejo de te fazer para sempre mulher!
E, sempre que quiser te terei por perto para te acolher,
imaginar coisas impossíveis como nunca te perder!
Em cada canto do teu corpo amado buscar uma pouco de prazer!
Sentir teu perfume de jasmim ou cravo e com ternura rejuvenescer,
Resplandecerá em mim e em você a nova aurora do renascimento,
Imaginar que minha vida jamais terminará num anoitecer, mas, na
aurora boreal da nossa existência, pensar que sou eterno, que não vou morrer!
Ao tocar teu corpo de pura ternura buscarei a verdadeira razão de existirmos
um para o outro, sem fronteiras, eiras nem beiras a nos interromper.
Caminho de sonho e de perseverança que a vida me lega sem me consultar,
assim com um presente que resolveu me dá e eu aceitei, agradeci e comecei amar!
Porque quero teu corpo e tua alma? para me completar, e ter certeza que em
outra esfera continuaremos juntos a nos amar, numa mesma história
que jamais terminará!

José Antonio da silva.
Cabo Frio – 20 de outubro de 2009.

sábado, 17 de outubro de 2009

ESTAMOS TODOS VELHOS

ESTAMOS TODOS VELHOS

Estamos todos velhos;
Estamos todos sérios,
Prontos pra morrer,
De tanto que vivemos,
De tanto que sabemos,
Que quase não há tempo,
Pra sobreviver,
Pra continuar nessa luta renhida
Que nos consome a vida,
Que com muito esforço
Foi sempre vivida.
O tempo agora é outro,
Já não há mais lugar,
Tomaram a nossa vez,
Os jovens que vieram de lá,
De onde já estivemos,
No lugar de outros velhos,
De quem tomamos o lugar.
A vida é assim mesmo,
Uma seqüência de mesmices
Que começa cedo, desde a meninice,
Atravessa o tempo, o corpo da gente,
Embaralha a mente e nos faz pensar…

José Antonio da Silva – Cabo Frio – 25/03/2009.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O MUNDO NÃO É APENAS UMA BOLA

O MUNDO NÃO É APENAS UMA BOLA...

Pense em algo complexo, p.ex. no corpo humano. Para quem acha interessante conhecer os mistérios do mundo deve antes de tudo basear-se numa estrutura de sabida complexidade como no caso do exemplo citado. Aqui não cabe a assertiva de que Deus fez o homem a sua semelhança, pois se assim fosse, na realidade teríamos certamente a forma globosa de uma bola. Tamanha é a complexidade do mundo que a partir de agora começo a escrever esta palavra com letra maiúscula, e portanto, considerar o Mundo o próprio Deus. Se Ele não nos fez à sua real semelhança na forma, nos fez em complexidade. Assim como existe
em nosso organismo mecanismo ativo de feed-back capaz de controlar excessos, prováveis causadores de danos ao nosso organismo, existe o feed-back global para controlar os excessos praticados pelos diferentes agentes Seus habitantes, quando estes cometem de forma comprometedora a fisiologia global. Senão vejamos: Como entender o aparecimento da pandemia universal da AIDS há cerca de 30 anos justamente quando a densidade demográfica do globo apresentava os primeiros sinais de hipertrofia? Como entender a ação dos terremotos que dizimam populações inteiras num passe de mágica? E as Tsunamis que matam 300.000 pessoas de uma só vez? – Devemos pensar estes fenômenos apenas do ponto de vista geológico? - Pensar com o senso comum é a tendência, afinal de contas o Mundo não quer que saibamos muito sobre Ele porque isto poderia comprometer algo da sua Onipotência perante Suas criaturas. Mas, o fato é que sendo muito vivo, é capaz de sentir e reagir à ação de Seus agentes pelos diferentes mecanismos de controle que possui. Desta forma promove equilíbrio ecológico à todo momento. Mesmo assim vem correndo sérios risco de desaparecimento sob a gama de ações danosas sobre Suas estruturas. Às vezes nos parece exausto de tanto reagir chegando a ameaçar Sua própria homeostase. Promete o degelo dos pólos, a desidratação dos Seus tecidos para inundar Seus próprios pulmões num grande edema agudo de proporções verdadeiramente autofágicas, a dissolução da camada de ozônio com o conseqüente comprometimento da vida de suas criaturas que não parecem nada interessadas em seguir suas determinações. Devemos pensar então que se o Mundo deu as Suas criaturas a prerrogativa do suicídio é porque Ele também pode praticá-lo de forma radical quando todos seremos vitimados. Suicídio do mundo será sempre coletivo. Cada um de nós vivemos como um órgão do Mundo. Como todo órgão devemos trabalhar em sistema com uma função especifica para um objetivo comum. Aqui seria preservar a vida individual e coletivamente, seguindo Seus desígnios. Assim como o plasma conduz os alimentos às células dos seres vivos animais e a seiva nos vegetais, os mares, rios e oceanos conduzem no Mundo. Estes elementos são órgãos que produzem vida que sustentam vida. Não façamos portanto, com que Ele nos restrinja a vida sendo obrigado a restringir sua própria em função do mal que Lhe fazemos. Pai de todos nós vivemos em Seu seio, crias do seu ventre, somos formados dos Seus Próprios átomos. Pelo seu juízo resgata-nos ao tempo que determina necessário à condição de origem após tentar nos fazer entendê-Lo. Nesse caminho nos permite alguns excessos desde que estes não comprometam a sua autoridade, como também compartilha conosco coisa maravilhosas ou catastróficas. Não duvidemos portanto, da verdadeira sabedoria do Mundo!

José Antonio da Silva.
Cabo Frio – 15/10/2009.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

VALORES PERDIDOS

Onde estão os valores da escola? Onde está o respeito mútuo entre professores e alunos? Cadê a confiança dos pais na escola onde colocam seus filhos para serem educados? E a disciplina que fizeram dela? O que fizeram os pais interferirem de forma tão negativa na educação patrocinada pela escola? Por que de repente acharam que a relação dos professores com os alunos tem que ser a mesma que ocorre entre pais e filhos? Porque a perda de hierarquia entre professores e alunos? Porque esta mistura equivocada? O que esperam hoje da escolas, os pais? Por que os professores não cobram desempenho dos alunos? Por que não se preocupam com o seu aprendizado? Porque quando cobram os pais não aceitam? Por que os professores não apresentam nível técnico de conhecimento necessário ao ensinamento? Por que ganham tão baixos salários? Por que os professores não se reciclam? Por que a escola pública perdeu o seu valor, autonomia e eficácia? Por que a escola particular também perdeu eficácia?
Há meu ver estas são perguntas que não se faziam no meu tempo de estudante. Perguntas que de certa forma, por si só, explicam a ineficácia da escola atual. Responde-las torna-se desnecessário, porque pela sua natureza encerram, em si, um triste diagnóstico que precisa ser corrigido com máxima urgência sob pena de estarmos a formar legiões e mais legiões de ignorantes funcionais em busca do nada, perdidos no tempo e no espaço, brutalmente hostis aos interesses sociais.
Por isso parodiando o poeta eu digo:
“ ai que saudade que tenho,
da minha escola querida,
que os anos não trazem mais.
Quando o professor entrava,
solene me levantava,
dava bom dia e sentava.
Ali, começava o dia. Sentados, com todo respeito, atentos, ouvíamos a sua aula professar. Cheio de sabedoria, podia-se se ver a distancia que nos separava em busca do aprendizado. Era-nos fácil notar que se impunha pelo que sabia. Despertava em nós, alunos, o desejo da igualdade pelo intelecto. Naqueles tempos, quem não desejava ser culto? Sua postura, às vezes nos parecia inatingível. Infundia disciplina, antes de tudo, não se misturava. Tudo com muito respeito. Naquele tempo tínhamos escola. Será que ainda a teremos?

Por José Antonio da Silva. Cabo Frio, 01/08/2008.

sábado, 10 de outubro de 2009

FUMAÇA

É como se seu corpo,
Morresse um pouco
A cada trago
Do prazer nefasto
Do vil cigarro,
Nele desabafa o tédio
De talvez viver
Do nojo, do escarro,
Que a faz tossir
Na tentativa inútil
De si expelir.
Da própria carne,
Do próprio ser,
Do inconsciente desejo
De não existir,
Embora exista,
Mas não pelo querer.
Fumar é assim,
Uma maneira fútil
De assistir, o próprio fim.

José Antonio da Silva – Cabo Frio – 22/11/2008.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

AUTODEGLUTIÇÃO

Deglutir a si mesmo
É deglutir o seu próprio
Desgosto!
É difícil e penoso,
O nó que fica no hipoglosso!
Boca da faringe e do esôfago,
Prestes a descer para o esgoto.
Atravessa o gastro e chega até
O intestino grosso. O esgoto!
Nauseia e faz ficar frio, faz suor,
E molha o rosto.
Pálido e lívido de desgosto.
Angustia o peito, constringe o coração,
Dá sensação iminente de infarto.
Comprime o ente contra a parede
Quando atinge o colo, cólico faz doer,
Surge a inevitável vontade de morrer,
Pelas entranhas constritas do sofrer,
De angustia pela solidão causada,
Da ausência da metade amada
Que por capricho também,
Resolve sofrer!

José Antonio da silva.
Cabo Frio
06/09/09.
SAÚDE SUPLEMENTAR E O MÉDICO –MANIFESTO

É no mínimo bisonha a situação do médico que tem como mercado de trabalho o Sistema de Saúde Suplementar. Nele, trabalha de sol a sol, paga todos os impostos e mais alguns, ganha quase nada, não tem garantias trabalhistas, paga seu próprio plano de saúde e de sua família, passa o tempo todo apoiando lutas pela melhoria da remuneração do seu trabalho pouca coisa consegue a duras penas, fica dependente deste mercado deficiente em termos de recursos materiais, fica a mercê de setor de recursos humanos incompetente para dar conta de uma gestão eficiente por não ter alternativa.
Ao longo do tempo o médico descobre que nem ficar doente pode, salvo raras exceções onde algumas cooperativas pagam um tipo de seguro para em caso de doença segurá-lo por seis meses, custo este que acaba saindo do seu bolso pois todos os planos são mantidos única e exclusivamente do trabalho médico. Para estes casos a doença tem prazo para começar e para terminar, como se isso fosse na prática, possível.
Coitado do pobre que continuar doente depois dos seis meses pré-estabelecidos na apólice do seguro saúde. Depois de vencido, só resta ao moribundo reclamar com o bispo.
Na saúde suplementar os consultórios estão abarrotados de consultas baratas a preço de banana – só para usar a expressão uma vez que banana não é mais um produto barato posto que, até a banana teve sua vez de influenciar os índices inflacionários.
Na saúde suplementar o médico encara jornadas cavalares de trabalho, nos consultórios, hospitais e centros cirúrgicos onde varam madrugadas operando pacientes eletivos com a finalidade de atender sua necessidade orçamentária.
Na saúde suplementar os caciques glosam. Há os que roubam e os que são roubados a luz de explicações que não justificam. Há cumplicidade.
Na saúde suplementar o dinheiro gerado pelo trabalho médico sustenta legiões de empregados, muita vez fruto de empreguismo pelo empreguismo e também de nepotismo.
Na saúde suplementar há os que trabalham e os que se locupletam, há os que levam as claras e os que o fazem por debaixo dos panos. Há os que mentem e ludibriam os seus pares.
Na saúde suplementar há os privilegiados e os desvalidos, aqui incluem-se, as categorias; médicos e usuários. Há descabida intervenção do governo através da ANS, órgão criado para apenas normatizar o famigerado mercado da saúde. Como se saúde fosse mercadoria!
Na saúde suplementar, em nome da democracia a maioria elege e a minoria manda.
Na saúde suplementar 20% absorve 80% dos recursos financeiros gerados pelo trabalho médico enquanto 80% fica com o resto.
Na saúde suplementar há o bizarro desequilíbrio das tabelas entre as especialidades, que pendem sempre em favor do mais fácil.
Na saúde suplementar o trabalho médico se tornou um grande arrecadador de impostos para os governos dos mais diferentes tipos – IR –PIS-INSS-GPS-COFINS-FGTS-ISS- e o resto do alfabeto. Há até bitributação.
Mas, na saúde suplementar não há só isso, há também o lado bom, que infelizmente nunca sobra para o médico, aquele que passa o dia todo sentado atrás da mesa ralando, mas antes para aqueles que são donos de poderosíssimas máquinas de alto alcance tecnológico e modernidades preparadas para faturar, capazes de provocarem a maciça migração das filas do simplório mas eficiente RX para as filas da ressonância magnética, da ultrasonografia, da densintometria tudo em nome qualidade do atendimento mas, na realidade causadoras de déficits memoráveis ao sistema. Convém salientar que neste caso, infelizmente o médico participa com sua parcela de culpa, já que é ele que solicita os exames. Por outro lado há uma margem de pressão e indução – intríseca dentro do sistema que contribui para sua atitude de solicitador de exames complementares sofisticados – infelizmente muitos não sabem quão inócuo se torna p.ex. um exame de ressonância magnética que não tem uma indicação ajustada.
O uso destas máquinas baseia-se mais em critérios mercadológico do que propriamente técnico uma vez que a esmagadora maioria dos exames gerados por elas são negativos, conseqüentes a solicitação inadequada ou má interpretação de quem assina o laudo. E tem mais, se sua utilização obedecesse critérios puramente técnicos, provavelmente seus donos não as pagariam ao fornecedor dado o tamanho de seus custos. Devo dizer que não sou contra as máquinas, mas antes defendo o uso racional- Há colegas que nem sabem para que servem, são apenas donos de um negócio!
Fala-se muito na eficiência destas máquinas quanto à qualidade do atendimento e a segurança do diagnóstico, mas, fala-se pouco ou quase nada sobre o dano financeiro que elas provocam dentro de um sistema de saúde sabidamente deficitário de modo que , quando o caos se estabelece e falta o dinheiro, vem o dirigente e diligentemente propõe o pró-rata nas cooperativas, enquanto os outros planos mandam a glosa indiscriminada escondida em sofisticados softs indecifráveis e de forma insofismável surrupiam na mão grande o trabalho suado do médico que nem um bispo tem para reclamar – aliais se tivesse, este certamente lhe diria – meu filho vá roubar também!
Parece desabafo não é?... Mas infelizmente é a realidade que requer com urgência o re-ordenamento deste sistema assim como seu redimensionamento e por que não – até sua extinção em beneficio da classe médica.
Vamos repensá-lo!...

Por José Antonio da Silva
Cabo Frio – 03/10/2009.

sábado, 3 de outubro de 2009

ACORDEI AS SETE, DUAS VEZES NO MESMO DIA

Acordei as sete, ao primeiro toque do despertador, notei que estava preguiçoso, havia trabalhado além da conta no dia anterior. Mesmo tendo deitado cedo da noite, o sono não me satisfiz, embora tendo sido ininterrupto.
Meu corpo doía um pouco, algumas juntas me pareciam enferrujadas, ao tentar mover o joelho esquerdo, ouvi algo como um rasgo que me fez parar instantaneamente para evitar uma dor maior. Em seguida segurei a perna com as duas mãos, coloquei o calcanhar no chão e fui aos poucos colocando carga progressiva até sentir firmeza e finalmente levantar. Agora sem dor e com tudo no lugar. Coisa de velho, pensei.
Para completar o meu despertar dolorido fiz alguns alongamentos tupiniquins e me dirigi ao banheiro, onde uma ducha bem quente me devolveu a energia suficiente para encarar mais um dia de trabalho junto aos meus pacientes.
Tomei o café da manhã e sai em direção ao mar, fui coleando a bonita orla da praia vagarosamente quando de repente comecei sentir uma enorme leveza me envolver. O mar estava lindo com suas águas azul-marinho ao fundo e verde esmeralda mais à frente. As ondas se derramavam em espuma branca precipitando-se sobre a areia. Pensei nela e senti enorme vontade de beijá-la como forma de dividir aquele momento sutil que só nos surge de vez em quando maravilhosamente. Foi assim, como se seu corpo colasse ao meu, senti seu cheiro, aroma de flores impregnaram meus sensores olfativos e mandaram ao cérebro uma mensagem de paz e tranqüilidade.
Pensei – estou amando novamente, não se sente algo assim sem se ter por trás um sentimento profundo daqueles que mexem com o coração e embotam a razão.
Era uma manhã de muito sol. Os raios passavam pelo vidro do carro e mesmo de óculos escuros me ofuscavam.
Pensei não ir trabalhar, ficar curtindo a leveza do meu ser no meio de toda beleza da praia. Chamá-la para curtirmos juntos, trocando afetos e aproveitando os poucos bons momentos que a vida às vezes nos propiciam.
Achei que se assim fizesse meus pacientes me perdoariam, pois tenho sido bom com eles durante toda minha vida de médico, afinal de contas a medicina sempre foi minha prioridade. Eles, sempre trato com dedicação e isonomia.
Nada se constrói sem paixão, paixão pelo que se faz, paixão como motivação, no bom sentido da elevação do espírito.
Não – não posso ficar, deixar de atender pessoas que esperam ansiosas para ter uma consulta comigo, marcada às vezes com um mês de antecedência. Não poderei frustrar-las, algumas acham até que estão com câncer e dependem de mim para tranqüilizá-las ou não. Como irei justificar minha falta? Perguntas que me faço constantemente e que às vezes me tiram o sossego.
Não costumo ceder a apelos contra meus compromissos, mas naquele dia não teve jeito. Há muito tinha vontade de fazê-lo, assim irresponsavelmente, só pra sair um pouco de tanta rigidez na auto-cobrança.
Aquele dia lindo convidava-me à irreverência tal era sua beleza. Não haveria outro dia,
tinha certeza, seria naquela ocasião ou nunca. Cheguei a duvidar da minha atitude.
Estava decidido, não iria trabalhar e pronto, não hesitei, peguei o telefone e liguei pra ela, mas nunca atendia, comecei a ficar agoniado. Por que será que não atende? Vai perder esta oportunidade? A agonia foi aumentando, aumentando a ponto de me sufocar, de modo que, quando não suportava mais em plena asfixia, o despertador me salvou, ai sim acordei as sete, de verdade. Naquele dia acordei duas vezes!

José Antonio da Silva – Cabo Frio – 09/07/2008.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Estatua Humana

ESTÁTUA HUMANA

Nem sempre uma estátua
É feita de pedra e lama,
Às vezes é de carne humana,
Cuja substância é matéria orgânica,
Embora pra subsistir se camufle
De matéria inorgânica.
Nem sempre é por natureza estática,
Já que pode ser dinâmica,
Ora estática, ora dinâmica,
Ora pedra e lama, ora carne humana.
Assim subsiste pela vida a fora,
Em busca de identidade,
De sua própria realidade,
Vestindo a máscara da insanidade,
Tenta encontrar sua própria verdade,
Mas encontra a indignidade!

Rio de Janeiro – 09/07/09.

Eu e o Tempo

EU E O TEMPO

O tempo brinca comigo,
me preserva,
Nele eu não cresço,
não envelheço, permaneço,
Pequeno, magrinho,
do mesmo jeito,
De sempre, quase no começo,
da vida que mereço,
Dizem–me perplexos,
os que conheço, quase
Velhos, reconheço suas rugas,
Suas dores, suas fugas,
Que não são minhas, não mereço.
O que faço me perguntam,
Porque nunca envelheço,
Sou o mesmo do começo.
O que faço desconheço,
Mas imagino viver pelo avesso!

José Antonio da Silva – Rio de Janeiro – 12/07/2009.

Nem Sempre Encontramos o que buscamos...

NEM SEMPRE ENCONTRAMOS O QUE BUSCAMOS...

Fato comum observado no cotidiano das pessoas é a busca por algo que nunca encontramos. Mesmo que esta busca se dê fora do cotidiano, ou seja em níveis mais complexos, pode ocorrer que aconteça o desencontro. Por outro lado, como é nem sempre; sobra um espaço onde às vezes encontramos o que buscamos. Ora encontramos de caso pensado, ora por acaso, ou seja naqueles momentos em pensamos fazer um giro e acabamos por fazer um jirau. Se não encontramos, pagamos o preço de viver com nossa frustração, por outro lado, se encontrarmos poderemos ter encontrado o dilema de nossas vidas. P.ex., não é fácil depararmo-nos com um dilema extemporaneamente. Muita vez, ficamos sem saber se encontramos a felicidade ou a infelicidade, se devemos conviver com o encontro ou permanecer como antes quando quando ainda não tinhamos o dilema. Nestes casos, a toda hora sentimos a angústia da incerteza, nos postamos diante do fantasma do certo e do errado, tudo porque não conhecemos o limite entre estes valores, embora inexplicavelmente eles nos façam perder preciosas horas de sono sob o manto escuro e assustador de noites insones recheadas de medo e de solidão. Pensamos mil coisas, desde viver a felicidade ou morrer de saudade de uma paixão escondida no verdadeiro dilema da moral humana, mesmo que a moral seja sempre movida pela conveniência do momento. Só nos resta nessas horas a rendição a questionáveis conceitos morais sabidamente colocados dentro das nossas cabeças, para servir ao todo, também questionável, conjunto da sociedade. Então perdemos nossa identidade, nossa personalidade, reprimimos os nossos impulsos instintivos e naturais para darmos lugar a racionalidade dos interesses coletivos. Cai o peso do mundo sobre os nossos ombros como se fosse a cruz que Cristo carregou sobre os Seus pelas mesmas razões, ou seja o preço que paga o homem por exteriorizar a sua crença. Seguimos capengando, ora vivendo, ora morrendo, um passo para frente e outro para trás, sentindo a firmeza de nossas escolhas ao mesmo tempo em detestamos o que fazemos pela fraqueza de nossas convicções. Mas, são poucas as possibilidades do encontro, principalmente quando é extemporâneo. Algo extemporâneo mobiliza a ignorância dos contemporâneos exacerbando nestes, valores retrógrados. Pessoas estranhas ao fato se motivam e de forma inexplicável assumem sua inclusão, em nome do que nem sabem, apenas porque vislumbram a possibilidade de prestar um serviço a referência moral, mesmo quando carregam em suas carapuças o peso da imoralidade de que já foram autoras. Observamos que tal fato decorre da experiência coletiva acumulada pelas mentes humanas ao longo da existência. Experiência de massa insane, ignorante e de senso comum. Observamos que há um sábio em cada ignorante, mas que de nada sabe, dos que não enxergam um palmo diante do nariz. São pessoas que pisam, deglutem umas as outras num ato verdadeiramente antropofágico. Inconscientes de suas atitudes entram em orgia e atingem o orgasmo da maldade por não conhecerem a si próprias. Não sabem o que fazem nem o que dizem, apenas fazem e dizem. Ainda são as mesmas que motivaram Cristo do alto de Sua sabedoria pedir ao Seu Pai que as perdoassem por não saberem o que fazem, emboram sejam as mesmas que O sacrificariam novamente. Aliás consta das sagradas escrituras que Cristo retornará, fato que nos deve preocupar e pelo que devemos rogar-Lhe encarecidamente que não volte. Muito menos se for para salvar a humanidade, que na sua história é apenas a reencarnação de Judas Escariotes! Judas é pouco, na realidade a humanidade é tudo de ruim, tanto que encontra sua remissão através dos atos de alguns bons. Pensamos que o mau caráter das pessoas complica o ato do encontro. Seres humanos que preferem reprimir seus desejos naturais a aprender administrá-los em busca de uma convivência mais legítima do ponto de vistas de nossas características biológicas. É fato que a vontade social reprime a vontade natural. Isto é determinante para controlar a dinâmica da sociedade do ponto de vista das relações humanas, para os que acham que o homem solitariamente não controla seu próprios impulsos. Não sabemos bem se a vontade social ou a necessidade social da convivência harmônica, mas o fato é que este estado de coisas é prejudicial ao encontro. Sabemos que o encontro pode ser de interesse social, ou natural, sendo este último o motivo da contenda. Visto por este ângulo observamos um grande impacto negativo da influência das pessoas sobre o encontro do algo que buscamos. Interferência sempre nefasta, sempre influenciada pelos tabus e preconceitos plantados pela ignorância sobre nossas cabeças. Por gerações e gerações, as atitudes se equivalem enquanto desafiam o tempo. Muda de época, de estilo, de lugar, mas sempre com efeito semelhante. A sociedade tem sempre um ego hipertrófico que não reconhece o ego de seus componentes. Nem tão pouco as necessidades. Afinal que mal lhe faz um encontro restrito a um interesse individual, constrito em um sentimento de paixão ou de amor pelo seu próximo? O que pensar da sabedoria contida no: “ Amai-vos uns aos outros como eu vós amo...”? Como amar sem o encontro?. Sentimos que a finalidade da busca é o encontro. Por isso apostamos no encontro. É depois dele que verdadeiramente as coisas acontecem. Nada acontece antes do encontro, mesmo se o encontro se dá entre o abstrato e concreto. O encontro se dá quando um motiva o outro. O verdadeiro encontro se dá no nível abstrato nunca no concreto, porque o concreto caracteriza apenas a aparência, é portanto, incapaz de mostrar o significado. A relação começa no encontro, o contrário nunca acontece, por isso nem sempre encontramos o que buscamos.

Por José Antonio da Silva – Cabo Frio, em um momento de reflexão, em algum lugar no tempo.

Unicidade da Origem

UNICIDADE DA ORIGEM

Na ânsia de compreender
A unicidade da origem,
De todas as coisas palpáveis
E concretas, desde a complexidade
Dos tecidos até a forma física da matéria,
Me perdi nos meandros da metafísica,
Para me achar na clareza do abstrato.
Misterioso e complexo substrato,
Dos que pensam as mentes inquietas
Que tentam entender o que não sabem.
Mergulhei no mundo dos incertos contatos
Em busca de um elo mais claro, de ligação,
Entre a forma física e a visão, do que
Vejo em terceira dimensão, sobre a face
Da terra, ou da imaginação dos homens
Que pensam ser o cosmo fruto da criação,
De apenas um Deus, cuja ação, sublima
Toda força e ambição dos mortais que buscam
explicar, mesmo sem saber,
a origem metafísica do ser.

José Antonio da Silva – Cabo Frio, 14/08/2009.
(Como explicar a diversidade tecidual dos humanos,
A partir de uma única célula – O ovo?.Mas...)

A R R O I Z A L

Lembro-me do arroizal
Do meu tempo de menino
No sitio do meu avô.
Capinzal esverdeado
Ondulado pelo vento do,
Crepúsculo, cor de cobre
Daquelas tardes saudosas
Prenuncio do anoitecer.
A revoada de pássaros
Em busca do que comer
Ameaçava o arroz
Ainda no berço a crescer
Com o seu grãozinho leitoso
Antes de endurecer, comida
Apreciada, de bom gosto,
De prazer pra passarada
Faminta , em busca do que comer
Minha missão era nobre
O arroizal proteger, pra
Passarada faminta
O bom arroz não comer.
Pássaros de todos os tipos
De anuns a bem-te-vis
Coleras e sabiás,
Rolinhas e juritis.
Tudo eu mandava voar
Disfarçado de espantalho
Pra outras terras distantes
Depois do rio, dos montes
Por detrás do belo horizonte.
Pro arroizal proteger
Daquelas aves famintas
Ficava ali de tocaia
Até a noite cair e sair
Devagarzinho assobiando
Entre os matos, imaginando
O momento de me deitar
E dormir.

José Antonio da Silva – Cabo Frio – 18/06/2008.